Crônica da Urda.PALESTINA – Até quando?
Se olharmos para a história bíblica, ambos os povos, tanto judeus quanto palestinos, descendem de Abraão – todos primos, portanto. Há uma diferença, no entanto: os palestinos nunca saíram das mesmas terras, desde os tempos bíblicos, enquanto que o povo judeu saiu diversas vezes: para o Egito, atrás das glórias de José; para a Babilônia, como escravos, na diáspora provocada pelo Império Romano. No caso da diáspora, o povo judeu espalhou-se por quase todo o mundo conhecido na época e, mais tarde, para os novos mundos descobertos, como foi o caso da América. Como exemplo, basta citar-se o da cidade em que vivo, Blumenau/SC/Brasil, onde, apesar de contraditória propaganda que diz tratar-se de uma Alemanha brasileira, a família mais numerosa da cidade é a de sobrenome Oliveira – família, portanto, de profundas raízes judaicas.
Assim, pelo mundo afora o povo judeu viveu, criou suas famílias, em alguns casos prosperou e em outros não, e a vida seguiu, com muitas famílias sequer tendo mais a lembrança das suas origens judaicas, como imagino que seja o caso dos Oliveira de Blumenau, e tantos outros. Mesmo para os que mantém a religião, as tradições e a cultura judaica, há que lembrarmos que nem todos são sionistas, que há diferença entre ser-se judeu e ser-se judeu sionista, que está errado culpar-se qualquer judeu, indiscriminadamente, pelo impiedoso massacre que se realiza em Gaza. Para quem está preocupado com a questão religiosa da coisa, explico que sionismo não é religião – funciona, hoje, como um partido político que governa Israel.
A seguir, veremos sobre o nascimento do sionismo.
As coisas não seriam como são hoje caso, no final do século XIX, não tivesse surgido na Europa um movimento político e filosófico chamado sionismo, que pregava o direito de todos os judeus do mundo a voltarem para os cenários bíblicos, isto é, a Palestina. Durante os últimos vinte séculos lá haviam vivido os palestinos, cuidando dos seus rebanhos e das suas plantações, mas a nova ideologia começou a agir e a fazer diversos movimentos para tal retorno, criando diversas pressões em diversos lugares e obtendo algumas vitórias para tal fim, como a obtenção de Declaração Balfourd, por exemplo, dada por Lord Balfourd, na Inglaterra, em 1917, que falava da intenção do governo britânico de facilitar o estabelecimento do Lar Nacional Judeu na Palestina, caso a Inglaterra conseguisse derrotar o Império Otomano, que, até então dominava aquela região.
Após o holocausto judeu perpetrado durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o mundo, com certeza envergonhado diante do massacre de seis milhões de judeus por conta do nazismo, acabou por conceder aos sobreviventes o direito a ter de volta parte das terras bíblicas, e em 1948, em votação na ONU, foi criado o Estado de Israel, que dividia as terras palestinas em dois países. Nenhuma consulta foi feita ao povo palestino, que, do dia para a noite, passou da condição de palestino para a condição de não-judeu, perdendo, portanto, a própria nacionalidade arbitrariamente, e o povo recém chegado, desde os primeiros dias, fez sucessivas guerras para se apoderar de mais e mais terras palestinas para si. A Palestina, que então ficara com 45% do seu território antigo, hoje se resume a quase nada, duas mínimas regiões que são a Faixa de Gaza e a Cisjordânia ocupada, onde se processa, metodicamente, a uma faxina étnica, conforme estamos vendo, horrorizados, nos noticiários de julho/agosto 2014.
Por que o mundo que assiste ao sistemático massacre dos palestinos nada faz? Pode fazer algo? Não sei. Se se olhar o mapa, vai se ver um Estado de Israel fortemente armado às custas dos Estados Unidos, que o municia a fundo perdido, com a finalidade de manter naquele ponto do mundo um bastião de domínio sobre os países limítrofes, ricos em petróleo. Tais verbas são aprovadas no congresso dos Estados Unidos pelo grande número de sionistas que são eleitos naquele país a cada eleição. Para o capitalismo estadunidense e internacional, é muito mais importante aquele seguro ponto de apoio no meio da grande quantidade de petróleo que o cerca do que saber das atrocidades que o sionismo provoca diuturnamente, desde 1948, com a população da Palestina, das quais não escapam crianças, idosos, doentes, sequer animais. Além dos bombardeios periódicos, como o que aconteceu nos últimos dois meses, a cada dia os palestinos são um pouco mais humilhados, cercados em guetos, passam a ter menos direitos, menos comida, menos remédios – sei de pessoa que já esteve lá e que lá tem parentes, que quando recebe a notícia de que um dos seus entes queridos está doente, já o considera morto, por saber da impossibilidade de tratamento que há na Palestina. Para quem não sabe, está quase pronto um grande, imenso muro que cerca toda a Faixa de Gaza...
Para o sionismo internacional, o domínio integral do território de Israel tem tamanha importância que permite todos os massacres, todas as barbaridades, todas as atrocidades. O importante é não fazer com que as fábricas de armas de guerra não parem, para manter o status quo de um mundo a cada dia mais decadente. Assim funciona o capitalismo.
Blumenau, 27 de Agosto de 2014.
Urda Alice Klueger
Escritora, historiadora, doutora em Geografia.
O dream team do The Dead Daisies está em destaque na primeira página do jornal Destak. A edição, distribuída nos principais pontos de São Paulo, traz entrevista com o tecladista Dizzy Reed (Guns N’ Roses), que menciona o lançamento do EP “Face I Love” e comenta sobre a tour ao lado dos renomados KISS e Def Leppard pelos EUA.
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Seminário Internacional Eisenstein #1: Imagens não-indiferentes | |||
08 e 09.09 | O evento inaugura uma série de encontros anuais em torno da obra de um dos artistas mais instigantes do século XX, Sergei Eisenstein, que conta com uma vasta produção intelectual ainda por ser publicada, investigada e melhor conhecida no Brasil. O seminário se propõe a pensar as reverberações desta produção teórica e artística na arte/e no pensamento nos dias de hoje, dando a ver a grande montagem da obra eisensteiniana com a criação em geral, a cultura e a ciência. Com palestras, lançamentos de livros e projeções de filmes. Auditório. Entrada franca. | ||
INFANTOJUVENIL | |||
07.09domingo, 14h30 | Um domingo na Casa de Rui Barbosa Esta edição vai homenagear o “Dia da Independência do Brasil". A programação infantil inclui contação de história e oficina de arte. Para os jovens e adultos, visita dramatizada ao Museu Casa de Rui Barbosa. Entrada franca. | ||
IDEIAS | |||
01.09segunda, 14h30 | A arte da língua de Angola (1697) e a obra nova da língua geral de Mina (1741) nos acervos portuguesesRelato sobre a experiência de pesquisa em Portugal com foco nas obras A Arte da Língua de Angola (1697) e a Obra Nova da Língua Geral de Mina (1741), exemplos de registro e conhecimento de línguas africanas no Brasil, com a pesquisadora Ivana Stolze Lima (História/FCRB). Sala de cursos. Entrada franca. | ||
10.09quarta, 14h30 | Memória & informação Palestra "Eletricidade para fins de iluminação: difusão e apropriação o início do século XX dessa inovação tecnológica", ministrada por Helena Lacé (doutora em Ciências em Arquitetura pela UFRJ). Sala de cursos. Entrada franca. | ||
11.09quinta, 18h | Série de colóquios Korpobraz "Biopoder, racismo e ações afirmativas" é o sexto colóquio promovido pela FCRB em parceria com a Universidade Nômade. Sala de cursos. Entrada franca. | ||
Artigo publicado pelo Consejo Lationoamericano de Ciencias Sociales (Clacso) discute as ações afirmativas no ensino superior para afrodescendentes no Brasil e na Colômbia. Em ambos os casos, estudos evidenciam que raça ou origem étnica são fatores determinantes para condição socioeconômica nas sociedades latino-americanas. No Brasil, a iniciativa no ensino superior começou com as universidades estaduais, de maneira isolada, mas em 2012 foi sancionada a Lei nᵒ 12.711/2012, que prevê que institutos técnicos federais e universidades públicas federais reservem 50% de suas vagas para estudantes que tenham cursado todo o ensino médio em escolas da rede pública, sendo que, destas vagas seja reservado o percentual de negros do estado onde se encontra a universidade assim como de indígenas. Das ações afirmativas adotadas até 2011, 87,1% beneficiavam alunos da escola pública; 57,1% eram ofertadas em benefício dos alunos negros; e das 70 universidades que adotaram algum tipo de ação afirmativa, 59 adotavam cotas. No entanto, o impacto da adoção das cotas ainda era pequeno: dados de 2008 sobre as universidades estaduais e federais que adotaram algum tipo de cota apontaram que, do total de vagas ofertadas, 22,6% foram ocupadas por cotistas, sendo apenas 9,3% negros e 11,3% beneficiados pela condição socioeconômica ou à vinculação com escolas públicas. Contrariando todas as expectativas, várias pesquisas apontam que o desempenho dos cotistas é igual ou superior ao dos não contistas. Já na Colômbia, o estudo aponta que nos últimos 20 anos, o acesso à educação na Colômbia tem ficado cada vez mais desigual devido à sua privatização, aumentando o acesso ao ensino universitário para os cidadãos com renda mais alta. A adoção de políticas educacionais neoliberais na Colômbia retirou do Estado, na prática, a responsabilidade pela adoção de políticas afirmativas: a demanda dos grupos étnicos é posta fora das competências do governo federal, sendo delegada a cada instituição, que é autônoma. Ações afirmativas como a reserva de vagas no ensino superior para alunos afrocolombianos e indígenas foram adotadas de maneira pulverizada. Atualmente, aproximadamente 13 instituições de ensino superior colombianas contam com algum mecanismo de reserva das vagas para alunos afrodescendentes. Apesar da constituição colombiana ser explícita quanto à adoção de ações afirmativas, até o ano de 2013 nenhuma política educacional de abrangência nacional foi implementada naquele país, o que é mais grave se levarmos em conta que, nas avaliações nacionais, os piores níveis educacionais estão nos municípios com maioria da população negra. Também, em nível nacional, na Colômbia, 33,4% da população indígena e 31,3% dos afrocolombianos são analfabetos, praticamente três vezes a porcentagem no restante da população. O estudo aponta que as ações afirmativas no ensino superior colombiano foram menos expressivas que as conquistadas pelo movimento negro brasileiro. Enquanto por um lado há uma população de 10,5% de afrocolombianos e políticas de cotas socais e raciais que variam entre 1% a 4% das vagas totais, a população negra brasileira, praticamente 50% de toda população, conquistou ações afirmativas para pobres e negros mais expressivas, que variam entre 15% a 60% de vagas reservadas. Assim, as conquistas do movimento negro brasileiro são consideradas pelo estudo como um exemplo a ser seguido no contexto colombiano. |
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