Terça-feira, 22 de Novembro de 2016

Vrajabhumi: 25 Anos de Beleza e Devoção

 

 

Bhagavan Dasa

Apresentar uma espiritualidade racional, técnicas práticas de autoaperfeiçoamento e uma sabedoria livre de fanatismo são alguns dos lemas de Vrajabhumi, um projeto bonito, acolhedor e rico em devoção, digno de ser conhecido pelo mundo inteiro.

Para começarmos a contar a história de Vrajabhumi, temos sob o holofote a pessoa de Sérgio, um típico playboy da década de setenta. Trabalhava com advocacia e era assíduo frequentador das noites cariocas. Sua cobertura em Copacabana era um ponto de festas, onde trocava o dia pela noite. Quase subitamente, porém, sua vida mudaria. Ao ler a obra Além do Nascimento e da Morte, de autoria de Srila Prabhupada, acharya-fundador da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna, o Sérgio das badalações começou a encarar a vida de outra maneira. Seu apartamento, então, virou um centro de encontro para espiritualistas, e, mais uma vez, os horários se alteraram, só que, desta vez, o seu dia começava bem cedo, de madrugada, para as meditações.

Em 1976, Sérgio foi ao Festival Hare Krishna de Nova Iorque, onde se encontrou pessoalmente com Srila Prabhupada, recebendo sua iniciação e o novo nome: Shatrukotivinasana Dasa (Shatru, para os amigos). Shatru agora queria dedicar-se exclusivamente à espiritualidade e, com as bênçãos do mestre, trocou seu apartamento e carro importado por uma terra em Teresópolis, com a intenção de transformá-la num pedaço do céu espiritual. Com a ideia em seu coração, Shatru pediu pessoalmente a Srila Prabhupada a bondade de dar um nome para aquele novo local de práticas espirituais. Prabhupada fechou seus olhos por um instante e, ainda de olhos cerrados, pronunciou: “Vrajabhumi”. “Nova Vrajabhumi?”, perguntam a Srila Prabhupada, já que muitas comunidades tinham nomes nessa estrutura. Srila Prabhupada disse: “Não. Apenas Vrajabhumi”. Desde então, Shatru se dedicou ao estabelecimento e desenvolvimento dessa comunidade como a obra de sua vida, sua oferenda a Deus.

Shatrukotivinasana Dasa, idealizador do Ashram Vrajabhumi, diante do primeiro templo da comunidade.

Seu principal objetivo era ter um projeto pioneiro que aliasse turismo, autossuficiência e pregação sofisticada para atingir camadas da população que normalmente não se aproximariam da consciência de Krishna. Desde o começo e ainda hoje, os frequentadores de Vrajabhumi se constituem, em sua maioria, de pessoas de classe média ou classe alta, com formação universitária e interesse por bem-estar e saúde, bem como espiritualidade racional, autoaperfeiçoamento e uma sabedoria livre de fanatismo. “A intenção não é nenhuma forma de elitismo”, aponta Nrisimhananda Dasa, atual presidente de Vrajabhumi, “mas, como sabemos, o ‘plano A’ de Srila Prabhupada no Ocidente era influenciar os líderes da sociedade, os formadores de opinião, porque, como o próprio Krishna diz na Bhagavad-gita, o que eles fizerem será naturalmente seguido pelas demais classes de homens. Tentamos cumprir esse propósito de Prabhupada.”

Shatru foi um homem à frente do seu tempo. Mesmo ainda nos anos 70, foi capaz de antever que a economia típica da ISKCON de então, de devotos vendendo livros nas ruas, talvez não se sustentasse como forma de obtenção de recursos por muito tempo. Ele queria um templo que se mantivesse mesmo sem uma congregação. A forma que encontrou para implementar isso foi se valer do potencial turístico da região onde Vrajabhumi está situada. A apenas 100 quilômetros do Rio de Janeiro, Teresópolis é um destino querido pelos cariocas quando desejam fugir um pouco da agitação dessa grande capital e se recolher em pousadas com um clima de roça e simplicidade.

Um dos aconchegantes chalés disponíveis na comunidade.

Vrajabhumi possui uma linda casa de hóspedes e chalés muito agradáveis, bem como uma estrutura para realização de retiros e recepção de grupos de yoga. Aqueles que participam dos retiros oferecem doações, o que é a principal fonte de recursos para Vrajabhumi, como foi originalmente planejado por Shatru. Além disso, Vrajabhumi conta com um restaurante lacto-vegetariano e vegano e oferece aulas de yoga, caminhadas pelas belas paisagens da região e diferentes terapias, compondo, assim, um leque de atrativos para o projeto.

Lalita Gopi, a devota à frente do restaurante de Vrajabhumi.

Devido à sua localização estratégica, Vrajabhumi é um local atrativo para retiros de grupos de yoga de toda a região sudeste do Brasil, justamente a maior detentora de influência econômica e cultural no país. Já há algum tempo, vários dos principais núcleos de yoga e grupos holísticos do Brasil têm frequentado Vrajabhumi e tido a oportunidade de serem introduzidos à consciência de Krishna de forma atrativa, coerente e culturalmente justificável.

Vrajabhumi é um local atrativo para retiros de grupos de yoga.

“Certamente se estabelecer de forma tão sólida dentro de um cenário competitivo como o do yoga, ao mesmo tempo preservando sua identidade como um retiro espiritual, foi o grande desafio histórico de Vrajabhumi”, comenta Nrisimhananda. “Acredito ser muito acertada e sábia a decisão de se manter Vrajabhumi alinhada de forma equidistante dentro do meio do yoga, pois todos acabam entendendo que Vrajabhumi não é seu rival, mas um projeto que pode agregar aos seus grupos.”

Lilaraja Dasa, residente de Vraja há mais de 30 anos.

Lilaraja Dasa, residente em Vrajabhumi desde 1982 (anos antes até mesmo de sua inauguração oficial com a instalação das Deidades), complementa: “Nós recebemos as pessoas e apresentamos a consciência de Krishna para fazermos amigos – amigos do meio do yoga, de ecologia, do vegetarianismo... Se alguém naturalmente se convence que o conhecimento dos três modos da natureza é algo objetivo e prático, que não podemos ser felizes no mundo material, que Krishna é maravilhoso, isso acontece pelo próprio mérito desse conhecimento. Não precisamos ser proselitistas.”

Murti de Srila Prabhupada, instalada em 2010.

Há mais de 30 em Vrajabhumi por “completa identificação”, Lilaraja Dasa, à sua maneira despojada, fala mais sobre a proposta de divulgação da consciência de Krishna ali: “Colocamos a pessoa ‘na cara do gol’. Em geral, as pessoas precisam fazer asanas para ficarem com o corpo saudável e poderem se sentar para pensar no Supremo, e fazem pranayama para a mente ficar serena. Vrajabhumi já dá para as pessoas os benefícios de asana e pranayama com suas instalações confortáveis, alimento saudável e santificado e um ambiente paradisíaco, aí basta a pessoa meditar no Supremo, com toda essa facilidade. Está realmente ‘na cara do gol’”.

O começo de Vrajabhumi, é claro, foi mais simples. O belíssimo lago de hoje, com o belíssimo salão/ilha em formato octogonal e totalmente janelado, era apenas “um charco”, e o templo era uma instalação modesta de tijolos e bambus. Lilaraja conta sobre o entusiasmo dos primeiros devotos envolvidos: “Fomos obtendo recursos com muita maratona de distribuição de livros, e fazíamos grandes maratonas de trabalho prático para as construções também”. Lilaraja lembra como pegaram milhares e milhares de pedras da margem de um rio próximo para utilizarem em diversas construções. “Nós cantávamos japa [canto de mantras contados em rosários] às 2 horas da madrugada, então fazíamos a adoração mangala-arati e, antes de o sol nascer, já estávamos trabalhando nas construções que sonhávamos oferecer a Prabhupada.”

Salão/ilha utilizado para cerimônias de fogo, aulas de yoga e atividades culturais.

Fachada do templo de Krishna-Balarama.

Um pouco da beleza de Vrajabhumi à noite.

Em 2001, com ajuda de Chandramukha Swami, junto de alguns outros devotos, como Krishna Mahotsava (esposa de Lilaraja), Jaya Advaita Dasa e Jaya Devaki Devi Dasi, o projeto já tinha todas as características da ideia piloto de Shatru. Nessa época, a estrutura para recepção de hóspedes foi revitalizada e o ashram amplamente divulgado pela pregação de Chandramukha Swami, que recebeu destaque na mídia devido ao seu trabalho musical com Nando Reis, um dos artistas mais influentes do Brasil e que se interessou em gravar uma música com mantras devido a ser fã de George Harisson.

Chandramukha Swami e outros devotos aparecem no clipe oficial da música Mantra, de Nando Reis, uma das músicas mais tocadas em 2004 na MTV.

Na história de Vrajabhumi, registram-se grandes eventos de repercussão local, nacional e internacional. Ao longo da década de 1990, realizaram-se anualmente “ashrams”, retiros que duravam entre 7 e 15 dias com ensinamentos intensos de bhakti-yoga, com diferentes líderes da ISKCON apresentando sistematicamente variados conteúdos da filosofia vaishnava, junto das práticas rotineiras do templo e conhecimentos acessórios, como ayurveda e astrologia. No total, mais de 1000 pessoas participaram desses eventos, que formaram muitos novos devotos de Krishna.

Embora numerosos demais para apontarmos todos, Vrajabhumi já sediou encontros dos trustees da BBT, encontros do órgão administrativo máximo do Brasil, encerramentos de maratonas de sankirtana, recitações de 7 dias do Srimad-Bhagavatam, congressos com temas como “Cuidado aos Devotos”, “O Pensamento Vaishnava”, curso completo Bhakti-shastri em 1 ano, Vaishnava Vedanta Yoga (curso pioneiro de formação de instrutores de yoga), retiros de japa, estudo avançado de O Néctar da Devoção e muitos outros.

“Noites de Vraja”, uma noite agradável no templo da capital do Rio, com shows de artistas famosos no Brasil, como a banda 14 Bis e o saxofonista Léo Gandelman, acompanhada de elegante jantar servido por garçons, cerimônias de fogo e palestras, foi outro evento de sucesso promovido por Vrajabhumi, ainda que fora de suas instalações.

Vrajabhumi, assim, atrai de forma amigável simpatizantes e espiritualistas em geral ao mesmo tempo em que auxilia com estudo aprofundado os devotos de Krishna e enche de orgulho os líderes influentes do movimento Hare Krishna. Jayadvaita Swami, discípulo de Srila Prabhupada e editor da Bhaktivedanta Book Trust, impressionou-se com Vrajabhumi e comentou que “Vrajabhumi tem um público numeroso e do melhor nível.” Madhusevita Prabhu, devoto italiano também guru na ISKCON, achou marcante a integração natural entre os devotos e o público geral nos kirtanas e palestras. Harishauri, famoso secretário e biógrafo de Srila Prabhupada, fez questão de ver cada um dos quartos e chalés de Vrajabhumi, conhecer a grande variedade de árvores, ver os animais silvestres que comem nas mãos dos devotos e tantas outras maravilhas de Vrajabhumi que lhe encheram os olhos.

Algo marcante nos kirtanas de Vrajabhumi é a integração natural e espontânea entre devotos e visitantes.

No centro de tudo isso, é claro, estão Krishna-Balarama, as Deidades instaladas no altar em 1991, completando neste ano de 2016, no dia 20 de agosto, 25 anos de instalação. Quando era responsável por um projeto rural que se iniciava no estado de Minas Gerais, Chandramukha Swami adquiriu as Deidades de Krishna-Balarama para o mesmo, mas as Deidades tinham outros planos. Chandramukha Swami, pouco depois de adquiri-las, tornou-se presidente da ISKCON Rio de Janeiro e inaugurou oficialmente o Ashram Vrajabhumi, instalando ali o par dourado de Deidades. Durante o Festival de Balarama de 2009, para tornar o altar ainda mais atrativo, foram instaladas as lindíssimas Deidades de mármore negro e mármore branco de Krishna-Balarama.

Instalação das Deidades originais.

As cativantes Deidades de mármore.

Com uma trajetória tão magnífica, há muito para comemorar, e as festas serão à altura. O festival de Vrajabhumi, em comemoração dos seus 25 anos, acontecerá entre os dias 19 e 21 de agosto, sendo que o ápice será no dia 20, quando haverá, além da programação tradicional do templo, um parikrama (peregrinação), o ritual do banho das Deidades, celebrações também pelos 50 anos da ISKCON, um banquete gratuito com 108 preparações e uma variedade de atrações culturais, culminando no show de Chandramukha Swami e da banda Krishna Bandhu. Grandes líderes do Movimento Hare Krishna na América Latina estarão presentes, como Dhanvantari Swami, Chandramukha Swami, Keshava Swami e Param Gati Maharaja, e, possivelmente, Purushatraya Swami e Yamunacharya Goswami. Nomes famosos do yoga também estarão circulando pelo evento.

Chandramukha Swami, líder espiritual mais atuante em Vrajabhumi.

Quando perguntamos a Nrisimhananda qual momento das festividades acreditaria ser o ápice, respondeu incerto: “Difícil definir um, mas acredito que, quando os devotos que tornaram Vrajabhumi realidade se unirem para contar seus passatempos, vamos ter um momento muito especial.”

Nrisimhananda falou um pouco sobre os planos para o futuro: “Hoje pensamos em expandir os limites de Vrajabhumi para abarcar hospedagens fora de retiros, fornecer cursos de filosofia védica em tempo integral e ter um diálogo maior com as atividades culturais da Região Serrana”. Vrajabhumi também pretender oferecer, em caráter inovador, uma formação completa de kshatriya, treinando devotos e pessoas de bom caráter para atividades de liderança e artes marciais segundo o exemplo dos reis-sábios descritos na literatura védica. Nessa mesma linha, iniciará um programa de “escoteiros vaishnavas”, para crianças a partir 7 anos.

Com passado, presente e futuro aos pés de lótus de Srila Prabhupada, Vrajabhumi é um projeto bonito, acolhedor e rico em devoção, digno de ser conhecido pelo mundo inteiro.

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publicado por o editor às 14:07
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Terça-feira, 15 de Novembro de 2016

Detox de Corpo e Alma

 

 

 

 

Chandramukha Swami

 

Nada mal se toda a nossa negatividade e veneno estivessem somente em nossos corpos...

 

A palavra da moda é detox, um simpático diminutivo da palavra inglesa detoxication, que, em português, significa “desintoxicação”. A ideia é boa: eliminar os efeitos de uma possível intoxicação. Nada mal se toda a nossa negatividade e veneno estivessem somente em nossos corpos! Nesse caso, seria muito simples fazer o milagre detox acontecer. Porém, “o diabo mora os detalhes”.

  Intoxicação é o que mais existe. Dá até para reconhecê-la em nós. Quer fazer o teste? É só responder às seguintes perguntinhas: 

– Você se levanta exausto? 

– Com mais pensamentos do que cabem em sua própria cabeça? 

– Vive embarcado em sentimentos dispersos, derramados em todas as direções? 

– Odeia o que faz? (Se este for o nosso caso, com certeza, será bom começarmos nosso dia com dois copos de um maravilhoso suco verde, mas sinto que isso não resolverá o nosso caso.)

– Você é incapaz de ficar a sós consigo mesmo? 

– É frequentemente tomado pelo espírito anônimo de sua própria insatisfação?

  – Sua vida pertence a estranhos? (Nesse caso, é bom mesmo introduzirmos lichia e linhaça em nosso pão integral, mas suspeito que isso não solucionará totalmente o nosso problema.)

– Você ingere suas refeições às pressas, em profundo sonambulismo?

– Vive acompanhado de comprimidos e drogas falíveis? 

– Os fantasmas das mil e uma contradições dilaceram sua vida cotidiana? (Sugiro que caprichemos mesmo no arroz integral com feijão azuki e comamos muita salada de folhas verdes, embora não acredite que isso nos bastará).

– À noite, se deita às altas horas, à margem de você mesmo? 

– Sua cabeça costuma girar em todas as latitudes e longitudes do mundo exterior? 

– Em meio à barulhenta praça pública da sua mente atormentada, tem dificuldade de pegar no sono? (Talvez, antes de dormir, uma sopa de abóbora com farelo de quinoa e vegetais grelhados poderão nos ajudar, mas não acredito que isso será o suficiente.)

 

Infelizmente, estamos intoxicados. Caso contrário, quem, em sã consciência, iria gastar seu tempo se nutrindo com as desgraças dos noticiários? Definitivamente, não dá para acreditar em purificação simplesmente bebendo suco verde se continuamos adorando saber das corrupções, se sentimos prazer em ouvir sobre as violências do cotidiano, se gostamos de problemas, se adoramos falar de doenças, se achamos que as mudanças têm que vir de fora para dentro.

Não adianta beber dois, três litros de uma boa água por dia se somos peritos em criar discórdias, se vivemos de aparências, se somos rasos, supérfluos, superficiais, se ficamos irados por qualquer coisa, se não fazermos as pazes com o nosso karma e, assim, só provamos e partilhamos migalhas de amor e bondade, se buscamos felicidade em embalagens plásticas com códigos de barra.

Somente uma era tão maluca como esta poderia produzir pessoas como nós. Sim, estamos intoxicados. Por isso, nossos semblantes são cinzas, somos pessoas amargas e amarguradas, mas nada disso tem a ver com o nosso eu verdadeiro. São meros resultados da intoxicação. A boa notícia é que existe um poderoso e delicioso tratamento detox: o cantar dos santos nomes de Deus, Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare..., que limpa a poeira acumulada na mente, desentope nosso canal de comunicação com Deus e, finalmente, restaura e desperta a nossa verdadeira consciência. Os santos nomes são tão poderosos que aceleram o metabolismo da alma. Por isso, eles são o verdadeiro detox para nossos dias sem graça e repetitivos, para nossos maus hábitos, para nossa inveja, para nossas relações doentes, para nossas obsessões, para nosso pessimismo, para nosso medo de mudar, para nossos sentimentos pobres, para nossos vícios, para nossa falta de coragem de arriscar, de romper, de fechar os ciclos, de se reinventar.

 

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publicado por o editor às 15:38
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Segunda-feira, 31 de Outubro de 2016

Fantasmas Existem?

 

 

Chaitanya-charana Dasa

Fantasmas existem? Sim, seria a resposta de muitas pessoas em diferentes tempos e lugares.

Algo quase universal na experiência humana são relatos de pessoas vendo, ouvindo ou percebendo de alguma maneira seres descorporificados que parecem agir de maneiras misteriosas e assustadoras. Em nossos tempos científicos, muitos de nós tendem a rejeitar a ideia da existência de fantasmas, tendo-a como fantasia folclórica, carente de evidências científicas. Entretanto, muitos cientistas eminentes consideram a questão dos fantasmas com grande seriedade.

Proeminente entre os cientistas que acreditam em fantasmas está o cientistas naturalista inglês Alfred Wallace, que foi cofundador da teoria da evolução. Em sua autobiografia, ele narra como evidências o forçaram a abandonar seu preconceito quanto à existência de fantasmas: “A maioria das pessoas de hoje cresceu com a crença de que milagres, fantasmas e toda a série de fenômenos estranhos aqui descritos não podem existir, que são contrários às leis da natureza, que são superstições de tempos passados e que são, portanto, ou imposições ou ilusões, necessariamente. Não existe espaço na tessitura de seu pensamento em que se possa encaixar esses fatos. Quando comecei a questionar isso, o mesmo acontecia comigo. Os fatos não encontravam espaço na estrutura de pensamento que eu tinha erigido até então. Todos os meus preconceitos, todo o meu conhecimento, toda a minha crença na supremacia da ciência e da lei natural se forçavam sobre mim sem possibilidade de eu escapar delas, ainda... Espíritos era a última coisa em que eu poderia acreditar. Toda outra possível solução foi experimentada, e rejeitada... Não pedimos aos nossos leitores que acreditem, mas que duvidem de sua infalibilidade em analisar a questão; pedimos que indaguem e façam experimentos com paciência, em vez de tirar alguma conclusão precipitada.”

Alfred Wallace, cofundador da teoria da evolução.

Outro cientista eminente que se convenceu diante de evidências foi o bem reputado psicólogo norte-americano William James: “Então, quando me volto ao restante das evidências, no tocante a fantasmas e coisas similares, não consigo mais carregar comigo algum tendenciamento irreversivelmente negativo da mente de ‘rigor científico’, com seus pressupostos quanto a como deve ser a verdadeira ordem da natureza.” (William James on Psychical Research, de Gardner e Ballou Murphy)

As evidências hoje têm mais peso do que nunca antes, visto que muitos livros bem documentados relatam evidências acumuladas por meio de rigorosos procedimentos científicos, conduzidos por muitos pesquisadores de paranormalidade.

Paralela a essas evidências significativas, e possivelmente abastecida por isso, temos uma crença pública substancial na existência de fantasmas. Uma pesquisa Gallup conduzida em 1990 demonstrou que:

- 29 por cento dos estadunidenses acreditam em fantasmas assombrando casas,

- 1 em cada 10 estadunidenses alegam terem visto ou terem estado na presença de um fantasma.

Apesar de cada vez mais evidências documentais e cada vez maior aceitação popular, o conceito de fantasmas permanece inaceitável para a maioria dos cientistas. Uma razão primária para isso é que a ciência materialista moderna não possui uma estrutura conceitual dentro da qual possa considerar a existência de fantasmas.

Mas essa limitação não é intrínseca à ciência per se, embora possa ser essencial para a ciência materialista. Não há razão, todavia, para se presumir que toda ciência tenha que ser materialista, pois não há evidência científica de que toda a realidade exista apenas no nível material.

Para quem possui uma mente aberta e aventureira o bastante para explorar visões de um mundo não-materialista, a sabedoria védica oferece uma estrutura explicativa sistemática para a compreensão da existência de fantasmas.

Três Níveis de Ser

Para auxiliar no nosso entendimento dos fantasmas, precisamos, primeiramente, nos familiarizar com os três níveis de existência, explicados na sabedoria védica. Esses três níveis são os seguintes:

  1. O nível material grosseiro: Este nível abrange a realidade física que podemos perceber com os nossos sentidos e com instrumentos que expandem a capacidade dos nossos sentidos, como microscópios. Cientistas materialistas se focam neste nível material grosseiro principalmente, se não exclusivamente.
  2. O nível material sutil: Este nível, embora material, está além da percepção dos nossos sentidos e abrange os sentidos sutis, a mente, a inteligência e o falso ego. De maneira simplificada, iremos nos referir a todo esse nível, algumas vezes, como o nível da mente, ou o nível mental.
  3. O nível espiritual: A alma, que é a fonte da consciência, existe neste nível imaterial.

Pertinente para nossa discussão dos fantasmas é a diferença entre a mente e a alma. A mente, embora invisível, não é espiritual; é material, apesar de feita de uma substância material sutil, o que a torna invisível aos nossos sentidos grosseiros. A mente, sendo material, não é consciente; apenas a alma é consciente. A mente pertence ao nível sutil, que fica entre o nível espiritual e o nível material. A partir dessa posição intermediária, a mente age como o conduto da consciência da alma, permitindo-a interagir com o corpo grosseiro. A mente tem a função de operar como um depósito de impressões adquiridas pela interação com o nível material grosseiro. Essas impressões abarcam, entre outras coisas, memórias do passado e desejos para o futuro. Com esse fundamento de ontologia védica básica, entendamos, agora, como e por que alguns indivíduos se tornam fantasmas.

Descorporificados e Desafortunados No momento da morte, a alma, acompanhada pelo corpo sutil, deixa o corpo grosseiro. Normalmente, a alma obtém um novo corpo sutil, de acordo com seu karma. Em casos excepcionais, entretanto, quando a alma não obtém um próximo corpo grosseiro, ela permanece em um estado descorporificado. As almas vivendo essa existência descorporificada são chamadas de “fantasmas”.

É claro que fantasmas não são completamente descorporificados; ainda têm um corpo sutil. Contudo, porque no linguajar não técnico, a palavra “corpo” denota um corpo grosseiro, o estado de existência sem esse corpo é chamado de “descorporificado”.

Por que os fantasmas não obtêm um corpo físico?

Suicídio: Aqueles que destroem seu corpo físico por meio de suicídio, isto é, aqueles que destroem o corpo prematuramente, antes do tempo estabelecido pelo seu destino cármico para receber um novo corpo, sentenciam-se a uma existência descorporificada como fantasmas até serem alocados em um novo corpo físico.

O suicídio é uma das causas para alguém se tornar fantasma após a morte.

Srila Prabhupada declara: “Fantasmas são destituídos de um corpo físico por causa de seus atos pecaminosos de grande gravidade, como o suicídio.” Assim, pessoas frustradas que imaginam que a morte é o fim da existência e, portanto, cometem suicídio para se livrarem de sofrimentos dão consigo mesmas em uma existência ainda mais miserável como um fantasma.

Apego extremo: Aqueles que morrem com extremo apego ao corpo, ao ambiente ou às posses físicas também podem se tornar fantasmas. Durante a morte de alguém nessa condição de apego, a obsessão excessiva e intensa da mente com o passado pode impedir que a alma vá adiante e, em consequência disso, fique descorporificada. Srila Prabhupada explica: “Quem é muito pecaminoso e apegado à sua família, casa, vila ou país não recebe um corpo grosseiro feito de elementos materiais, senão que permanece em um corpo sutil, composto de mente, ego e inteligência. Aqueles que vivem em tais corpos sutis se chamam fantasmas’.”

Um Estado Frustrante e Aterrador

A condição anormal de estar sem corpo é agonizante para os próprios fantasmas e aterradora para os demais. Vejamos o porquê:

Agonizante para eles: Os fantasmas possuem uma mente, tal qual a nossa. A mente deles, como a nossa, está cheia de memórias e desejos, os quais eles desenvolveram em sua existência corporificada anterior. Contudo, diferente de nós, eles não têm um corpo grosseiro para a realização desses desejos. Assim, a memória deles pode estimulá-los, por exemplo, a desejar um doce favorito. E, como o corpo sutil contém sentidos sutis, talvez até mesmo percebam outros – pessoas corporificadas – saboreando esse doce, o que agrava o seu desejo. Todavia, como os fantasmas não possuem uma língua física para desfrutar pessoalmente desse doce, seu desejo permanece eternamente sem ser satisfeito. A situação deles é como aquela de alguém que tem que seguir uma dieta estrita enquanto vê outros se banquetearem. Para o doente, essa aflição talvez dure por alguns dias apenas, mas, para os fantasmas, isso se alonga por toda a duração de sua existência fantasmagórica. Como se isso não bastasse, essa frustração se estende a quase todo tipo de desejo que têm. Não é de surpreender que eles considerem agonizante sua existência. Srila Prabhupada resume a causa da agonia deles quando declara: “Os fantasmas, por não possuírem um corpo, sofrem terrivelmente, não sendo capazes de satisfazer seus sentidos.”

Assim como um doente se frustra com a dieta rigorosa que tem que seguir, fantasmas sentem grande ansiedade por não poderem satisfazer seus desejos.

Aterrador para os demais: Muitas pessoas têm muito medo de fantasmas porque lhes é algo incompreensível – assustadora e misteriosamente incompreensível. Ficam arrepiadas apenas por imaginar portas se abrindo de repente sem ninguém nas proximidades ou barulhos estranhos vindo de uma área sem uma fonte evidente para o som. Poucas coisas afastam mais possíveis compradores de uma casa do que rumores – verdadeiros ou falsos – de que a casa é assombrada. Para muitos, a mera possibilidade de se encontrarem com um fantasma é assustadora o bastante, mas a ideia de ser possuído é muito apavorante. Possessão se refere ao fenômeno desconcertante em que um fantasma entra no corpo grosseiro de alguém, assume o controle desse corpo e o utiliza como um instrumento para realizar seus desejos pessoais. O indivíduo assim possuído frequentemente fala e age de maneiras que diferem marcadamente de sua maneira habitual de falar e se comportar. Durante a possessão, o possuído exibe uma personalidade diferente de sua personalidade habitual porque essa personalidade habitual foi suprimida pela personalidade dominante do fantasma. A alteração de personalidade frequentemente deixa perplexos e perturbados os parentes da pessoa possuída. Anedotas envolvendo essas possessões fazem crescer o medo de fantasmas na mente do público em geral.

Evaporando a Névoa de Mistério

A sabedoria védica consegue evaporar essa névoa de mistério em torno dos fantasmas. Ela desmistifica a natureza da existência fantasmagórica e nos ajuda a ver os fantasmas como indivíduos mais em sofrimento do que indivíduos malévolos. É claro que alguns fantasmas podem ser maus, especialmente com quem fez mal a eles em sua existência corporificada passada. Entretanto, os fantasmas, em geral, são, antes de tudo, indivíduos que estão sofrendo por causa dos desejos não realizados, um problema endémico de sua existência descorporificada. A pressão dessas frustrações frequentemente os volta à violência e, algumas vezes, à maldade sistemática.

A visão védica da realidade tríplice – matéria grosseira, matéria sutil e espírito – nos ajuda a entender o comportamento aparentemente misterioso dos fantasmas, que desafiam as leis da ciência materialista. Essas leis da ciência materialista foram postuladas principalmente com base em observar e analisar o comportamento da matéria grosseira. Como a mente é um elemento material sutil, pode atuar sobre o nível material grosseiro de maneiras que não são limitadas a essas leis da ciência materialista. Não é de espantar, portanto, que os fantasmas, existindo como existem no plano mental, possam atuar de formas que confundem e perturbam as pessoas que foram ensinadas a acreditar que tudo na natureza segue as leis da ciência materialista. O poder fantástico dos fantasmas é indicado no Srimad-Bhagavatam (5.5.21-22), que aponta os fantasmas como superiores aos humanos na hierarquia universal de seres vivos: “Superiores aos seres humanos são os fantasmas, pois não possuem corpo material.”

Os textos védicos explicam que os fantasmas acomodam-se em condições de ignorância e ilusão. Assim, quem se mantém habitualmente em condições dessa natureza, como a alteração da consciência por meio de álcool e outras drogas, tem mais chances de ter uma mente fraca que facilite ataques e possessões por parte de fantasmas. Srila Prabhupada declara: “Ser assombrado é algo que acontece em um estado de existência impuro.”

Podemos nos tornar praticamente invulneráveis a esses ataques incorpóreos ao adotarmos um modo de vida iluminado. A sabedoria védica recomenda esse modo de vida primeiramente para o fim do avanço espiritual, que é a meta mais elevada da vida. Apesar disso, esse modo de vida que se afasta de atividades autodestrutivas, como o uso de drogas, oferece o benefício adicional de nos proteger de ataques de criaturas fantasmagóricas.

Para lidar com ataques de fantasmas, a sabedoria védica nos equipa não apenas com insights preventivos, mas também remediadores. Atividades devocionais, como sequências de mantras sagrados, podem exorcizar tanto lugares que estejam assombrados quanto pessoas que estejam possuídas. Srila Prabhupada endossa isso em uma carta enviada em resposta aos questionamentos de um discípulo: “A melhor maneira de removê-los [fantasmas] é cantar Hare Krishna muito alto e fazer um kirtana jubiloso até que vão embora. Na Inglaterra, na casa do Sr. John Lennon, onde fiquei em 1969, havia um fantasma. Contudo, tão logo os devotos começaram a cantar muito alto, ele se foi sem demora.” (Carta a Damodara, Delhi, 3 de dezembro de 1971)

Indo Além de Todas as Misérias

É importante salientar que, embora a sabedoria védica reconheça a existência de fantasmas, ela não é caprichosa em colocar neles toda culpa de acontecimentos estranhos. Srila Prabhupada escreveu em uma carta a um discípulo que perguntou se seus problemas mentais eram causados por fantasmas: “Com relação às ofensas que você está ouvindo, não se trata de fantasmas, como você diz, mas são criações da sua mente. A mente é realmente repulsiva, como você disse. Portanto, Krishna diz que o transcendentalista esforçado tem que primeiro controlar a mente, após o que, pelo controle da mente, terá paz.” (Carta a Dhristaketu, Bombaim, 1 de novembro de 1974)

Disciplinar a mente por meio da prática da consciência de Krishna é a maneira mais efetiva de lidar com todos os problemas da existência material – tornar-se um fantasma, ser assombrado por um fantasma ou ser atormentado por perturbações da mente que alguns poderiam atribuir a fantasmas, ou todos os outros problemas que são, em última instância, as reações cármicas para os erros impelidos pela mente descontrolada.

Existem coisas mais importantes a se fazer na vida humana do que se preocupar com fantasmas.

É por isso que, embora explique a existência de fantasmas e confirme a potência exorcista do santo nome, a sabedoria védica não dá muita importância para nenhuma das duas. Ela declara que a vida humana se destina a um propósito muito mais importante do que se preocupar com fantasmas, seja na forma de fascínio mórbido, medo paranoico ou negação dogmática. A vida humana carrega a potência gloriosa de nos outorgar a imortalidade caso utilizemos esta vida para redirecionar nosso amor do efêmero para o eterno, da matéria para Krishna. Devolver-nos nosso direito perdido à imortalidade como seres espirituais é o tesouro supremo da sabedoria védica. A explicação precisa e coerente da sabedoria védica de fenômenos como assombrações – um fenômeno que confunde a ciência materialista e a impele a viver em eterna negação – pode servir como um combustível para nossa fé conforme exploramos os insights mais espirituais e desfrutamos das dádivas devocionais dessa fonte de conhecimento perene.

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Segunda-feira, 17 de Outubro de 2016

Kartik - Mês Lunar de Damodara

 

 

 

 

Em 2016 começa dia 16 de outubro o mês lunar de Damodara. Durante este período, chamado Kartk, cantamos todos os dias a canção Damodarastaka, onde meditamos na forma infantil de Krishna e a relação amorosa materna com Deus, exemplificada por Yasoda, que faz o papel de mãe de Krishna.

 

 

Nesta época é muito auspicioso oferecer uma mechinha de ghee para Krishna todos os dias.

 

Aqui uns vídeos no YouTube onde poderá escutar a canção (ou tocar para cantar junto durante estes dias!). Em anexo a letra.

 

Radhanatha Swami em Mayapur: http://www.youtube.com/watch?v=5bpl1puoGxo.

 

Devotos de Nova Goloka (EUA): http://www.youtube.com/watch?v=gwZal4ry-7Y.

 

Versão em Estúdio de Gravação por Srimathumitha: http://www.youtube.com/watch?v=z68Ccgk0i64.

 

O mês lunar de Damodara termina dia 15 de novembro.

 

É uma época muito auspiciosa e propícia para reforçar nossa devoção, aproveitem!

 

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Sexta-feira, 14 de Outubro de 2016

Debate - Jesus É o Único Caminho?

 

 

H.D. Goswami

O que pensam as pessoas quando têm liberdade de pensamento?

O que realmente leva pessoas a tomarem uma decisão – “isso é verdade” ou “isso não é verdade” – é a intuição profunda, porque Deus está no coração. Por exemplo, tome a alegação: “Jesus é o único caminho, não há outro caminho para Deus a não ser Jesus”. Verificamos que essa alegação foi aceita pela maioria das pessoas ao longo da história apenas em sociedades onde havia coação muito extrema e violenta. Em outras palavras, de fato não verificamos que uma quantidade significativa de pessoas, por períodos significativos de tempo, acreditaria nisso se não houvesse coerção violenta. Não estou dizendo que Jesus não é divino – pessoalmente acredito que Jesus é divino, e há muitas pessoas boas que aceitam Jesus como divino. Porém, meu ponto é especificamente este: quantidades significativas de pessoas, por períodos significativos de tempo, não acreditavam que Jesus seria o único caminho; algo que, em primeiro lugar, o próprio Jesus nunca ensinou.

Se analisarmos sociedades livres, onde não há coerção intensa de uma forma ou de outra, muitas pessoas respeitam e amam Jesus, e também entendem que existem outros caminhos. De fato, o estudo sério mais recente feito pela Fundação Pew, provavelmente o principal grupo que faz pesquisas sobre atitudes das pessoas com relação à religião nos Estados Unidos (um país conhecido por ter pessoas do tipo “fanáticas consumadas”) descobriu que 2/3 dos cristãos norte-americanos – quer sejam protestantes, católicos ou ortodoxos – acreditam que o indivíduo pode ir para o céu de outra maneira além de Jesus.

Por exemplo, quando eu morava em Davidson, uma cidade universitária muito bonita na Carolina do Norte, um dos meus vizinhos era o pastor de uma Igreja Episcopal. Ele era um sujeito inteligente e muito agradável; costumávamos conversar quando nos esbarrávamos nessa pequena cidade. Uma vez, estávamos conversando e eu o questionei: “Você afirma que Jesus é o único caminho e que o que estou praticando não é um caminho válido?” Sua resposta foi muito interessante: Ele disse: “Jesus é o único caminho, mas não necessariamente para todos”. Penso que essa resposta foi muito inteligente e razoável.

Tradução de Dhananjaya Dasa.

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Sexta-feira, 23 de Setembro de 2016

O Avatar: Concepções Digital, Cristã, Monista e de Bhakti

 

 

por Chaitanya-charana Dasa

 

 

O conceito de avatar no mundo dos jogos, na teologia cristã e na filosofia monista têm um elemento em comum: na transposição de um mundo para outro, quem o faz não permanece o mesmo – o avatar de bhakti possui uma lógica diferenciada.

Central no conceito de avatar está a ideia de transpor de um reino para outro. Em seu contexto filosófico original, em sânscrito, avatar se refere à Verdade Absoluta descer do mundo espiritual para o mundo material. A existência do Divino além deste mundo se chama “transcendência”, ao passo que Sua existência neste mundo se chama “imanência”. A questão de como o transcendente pode Se tornar imanente intrigou muitos pensadores ao longo da história. Para compreendermos um pouco da profundidade do assunto, consideremos as concepções de avatar no mundo digital, no cristianismo, no monismo e em bhakti.

Avatar Digital

A palavra sânscrita avatar se tornou bem conhecida no mundo devido a um sucesso de bilheteria de Hollywood e a jogos de RPG de computador. No uso contemporâneo, avatar se refere a um ícone ou personagem tridimensional representando uma pessoa em ambientes virtuais, como videogames e fóruns de internet. Nesse uso, a “transposição” implícita no avatar é do mundo físico para o mundo digital. Nosso avatar digital é um passo para fora da realidade de quem somos. Mesmo se nosso avatar no videogame for hábil em fazer muitas coisas, ele não tem consciência alguma. Sua consciência aparente resulta da projeção de nossa consciência nele através do mecanismo de interface do jogo. Então, quando nos referimos a algo inconsciente como nossa avatar, concebemo-nos em termos reduzidos. Essa redução é reveladora, pois aponta para duas linhas de pensamento distintas:

  1. Uma concepção mecânica do eu, que nos faz pensar que podemos ser representados por um perfil digital que é tão inconsciente quanto os elétrons que constituem o mundo digital.
  2. Uma ansiedade por se transpor para uma realidade diferente de nossa realidade mundana atual com toda sua nulidade.

Criação de um avatar em um jogo de computador.

Embora a palavra avatar, tradicionalmente, refira-se ao advento da Verdade Absoluta para este mundo, o uso contemporâneo da palavra se refere ao eu, e não ao Absoluto. Ainda assim, os problemas da “transposição” associados com a noção de avatar vêm à tona quando aplicados ao eu também, pois o avatar e o eu são distintos.

Encarnação Cristã

O termo “avatar” é frequentemente traduzido por “encarnação”. Essa palavra é intrincadamente associada a concepções abraâmicas acerca de como o Divino Se manifesta neste mundo. No cristianismo, a palavra “encarnação” se refere, em geral, a Jesus, que é tido como Deus em um advento de carne como um ser humano. Jesus nasceu em uma família judia que era fortemente messiânica, movida pela ansiedade de aguardar um messias que libertaria as pessoas de seus vários problemas. Com base nos ensinamentos e milagres de Jesus, seus seguidores o consideraram o messias. Essa noção foi negada por alguns diante de sua crucificação, mas foi reforçada por outros devido à alegada ressurreição. Por quase quatro séculos depois, a identidade de Jesus foi uma questão de debate vigoroso, ou mesmo “amargo”, na comunidade cristã. Por fim, o Credo Niceno elevou Jesus de “messias” a “encarnação”. O Credo determinou que a divindade de Cristo se manifestara na humanidade de Jesus, que era, por conseguinte, tanto completamente humano quanto completamente divino. Todavia, atribuir completa divindade a ele foi algo problemático, haja vista a memória histórica inegável e recente da vida de Jesus como um humano. A própria Bíblia insuflava o problema com declarações como: “O Pai é maior do que eu”. (João 14:28) Enquanto algumas citações apoiam a unidade do Pai e do Filho, a Bíblia também indica que essa “unidade” com Deus não é exclusiva dele, senão que pode ser obtida por outros também: “Para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em mim, e eu em Ti; que também eles sejam um em nós.” (João 17:21)

“E o verbo se fez carne.”

Essa falta de clareza dos limites entre humano e divino na concepção da identidade de Jesus reflete a falta de clareza ainda maior dos limites de matéria e espírito na filosofia cristã. A Bíblia se refere à alma, mas não a descreve claramente, nem a diferencia categoricamente do corpo – é frequentemente utilizada como uma referência metafórica para nossa essência imaterial. Com essa ambiguidade ontológica em relação à alma, surgiu a noção de que todo crente fiel receberia uma ressurreição corpórea, como aconteceu com Jesus. Aqui, mais uma vez, vemos como concepções do Divino se entrelaçam com concepções do eu.

Avatar Monista

Monistas defendem que a realidade é constituída, em última instância, de uma substância. Tecnicamente, materialistas que dizem que a matéria é tudo o que existe também são monistas – são monistas materialistas. Convencionalmente, porém, o termo “monista” se refere a espiritualistas que defendem que uma substância espiritual é tudo o que existe. Para tais monistas, o mundo material, com toda sua variedade, é, por fim, uma ilusão. Também sustentam que nossa autoconcepção como seres individuais também é uma ilusão. Acreditam que libertação é se fundir na unidade não-diferenciada do Absoluto.

Para os monistas, a matéria é simplesmente uma ilusão; o espírito é tudo o que existe, e é uma unidade não-diferenciada. Assim, na visão de mundo monista, não existe mundo material para se transpor, tampouco existe um ser espiritual supremo para fazer essa transposição.

Na tradição monista, o avatar é uma ilusão útil, mas que, no final, deve ser dispensada.

Monistas tentam solucionar tais problemas em sua filosofia atribuindo uma realidade provisória para a matéria – a matéria é vista como real enquanto as pessoas estão em consciência material, ou, em outras palavras, em ilusão. Defendem que o avatar também está nessa realidade provisória – o absoluto impessoal se torna pessoal temporariamente durante o período do advento. O avatar, assim, é tratado como uma ilusão útil, a qual pode nos ajudar a resistir às ilusões danosas da existência material: os muitos objetos dos sentidos que nos persuadem em direção aos prazeres mundanos. Quando focamos nossa consciência no avatar, podemos nos desapegar dos objetos dos sentidos e nos situarmos em um modo relativamente elevado: a bondade. Ainda assim, independente de quão útil ou prestativo, o avatar é tido, em última instância, como uma ilusão – uma ilusão que precisa ser dispensada para se obter a libertação. Assim, o monismo não trata o avatar como uma realidade espiritual, mas como uma ficção conveniente e útil para o crescimento espiritual.

Avatar de Bhakti

Enquanto o cristianismo sustenta que a encarnação é, de alguma forma, tanto material quanto espiritual, e o monismo advoga que o avatar é material, bhakti explica que o avatar permanece espiritual mesmo enquanto está no mundo material.

Para entendermos como isso é possível, precisamos primeiramente compreender como bhakti entende a relação entre matéria e espírito. A Bhagavad-gita, em seu segundo capítulo, apresenta uma dualidade radical entre matéria e espírito. O espírito é descrito como não tendo nenhum dos atributos da matéria – a alma não nasce nem morre (2.20) e é imutável, estando além de fragmentação, incineração, dissolução e dissecação (2.24-25). A Gita, porém, balanceia essa dualidade radical com uma unidade orgânica em seu sétimo capítulo, onde se declara que tanto a matéria quanto o espírito são energias da mesma Verdade Absoluta (7.4-5). O espírito ser uma energia do Absoluto deixa implícito que o Absoluto está situado não apenas do lado espiritual da divisão matéria e espírito, mas que está situado no ápice da realidade espiritual. A Gita (10.12) revela que essa Verdade Absoluta é Krishna, declarando que Ele não é apenas brahma (espírito), mas param brahma (o Espírito Supremo). O Srimad-Bhagavatam (8.3.4), outro texto de bhakti destacado, reitera essa posição do Absoluto ao declarar que Ele é parat parah, o que Srila Prabhupada explica como sendo que “Ele é transcendental ao transcendental”, ou “acima de toda transcendência”. Com esse plano de fundo metafísico, estamos melhor preparados para entender como o avatar permanece espiritual mesmo no mundo material.

Krishna, segundo a Bhagavad-gita, não é influenciado pela natureza material mesmo quando está nela.

Para ilustrar, Srila Prabhupada, algumas vezes, dava o exemplo da eletricidade: é uma só energia que pode se manifestar como calor através de um aquecedor e como frio através de um ar-condicionado. Pensemos ainda nos aparelhos que podem, pelo girar de um botão, passar de aquecedor para ar-condicionado. Aquele que controla esse aparelho pode, à vontade, se valer da mesma energia elétrica para aquecer ou esfriar. Se a existência é como uma máquina, Krishna é como o controlador. Girando o botão de Sua onipotência, Ele pode impedir que a energia material atue materialmente sobre Ele até mesmo quando Ele Se manifesta no mundo material.

Embora a Bhagavad-gita não utilize a palavra específica “avatar”, fala sobre o advento do divino no capítulo 4, nos versos de 6 a 10. A Gita começa essa discussão declarando que Krishna permanece o Senhor imperecível de todos os seres vivos até mesmo quando Ele entra na natureza material, que pertence a Ele. Essa declaração indica que Ele não fica sob o controle da natureza material, que sentencia todos os seres corporificados através do fluxo inexorável do tempo à deterioração e destruição.

A transcendência eterna do avatar grifa uma diferença sutil entre “avatar” e a tradução “encarnação”. Etimologicamente, “encarnação” significa “entrar na carne”. Krishna, entretanto, não faz Seu advento em uma forma de carne; Ele permanece transcendental.

Não obstante, instrutores de bhakti frequentemente introduzem audiências ao conceito de avatar com a tradução “encarnação”. Fazendo isso, evitam de colocar sobre nós o fardo de uma dupla falta de familiaridade: tanto um termo estranho quanto um conceito estranho. Termos são instrumentos verbais para conceitos mentais. Ao primeiramente nos darem um meio familiar para acessarmos um conceito estranho e, em seguida, explicarem as dimensões estranhas do conceito, eles nos ajudam a progredir até a compreensão, com um passo de cada vez.

Quando Krishna faz Seu advento neste mundo e realiza Seus passatempos, Ele faz com que este mundo deixe de ser um palco para exibição de ilusão e o torna um palco para exibição da realidade espiritual mais elevada: os passatempos amorosos entre Ele e Seus devotos. A Gita (4.9) declara que aqueles que se atraem pelo advento e pelas atividades de Krishna, entendendo Sua posição transcendental, não renascem – senão que alcançam Sua morada eterna.

Trailer e Trilha

O passatempo que o avatar realiza serve a duas funções extraordinárias: como trailer e como trilha.

Trailer: O amor é nossa aspiração mais profunda; todos nós desejamos amar e sermos amados. Contudo, devido à natureza temporária das coisas neste mundo, nossa avidez por amor é frustrada – inevitável e repetidamente.

Os passatempos de Krishna são atuações do amor que jamais é frustrado.

Os passatempos de Krishna são atuações do amor que jamais é frustrado – o amor puro e espiritual entre o todo-atrativo Supremo e Seus devotos que segue eternamente no mundo espiritual. Quando Krishna faz Seu advento neste mundo, Ele realiza alguns desses passatempos aqui, dando-nos vislumbres provocativos de uma região onde nossa avidez por amor pode ser satisfeita eterna e perfeitamente. Assim, Seus passatempos servem como um trailer com a finalidade de nos atrair para Sua morada.

Trilha: Aqueles com um entendimento superficial dos passatempos de Krishna pensam que se tratam de histórias destinadas a entreter. Quem compreende esses passatempos verdadeiramente, porém, sabe que não são mero entretenimento, mas algo em que podemos ingressar – eles ocorrem na realidade espiritual eterna, à qual nós, como almas espirituais, partes de Krishna, pertencemos.

Para adentrarmos essa realidade, precisamos redirecionar nosso coração do mundo para Krishna. Para esse redirecionamento, Seus passatempos proporcionam tópicos encantadores e purificantes, os quais podemos contemplar, analisar e desfrutar. Quanto mais pensamos em Krishna dessa maneira, mais nosso coração se atrai por Ele e mais progredimos em direção a Ele. 

De modo geral, o avatar demonstra a centralidade do amor no crescimento espiritual. É o amor de Krishna por nós que inspira o transcendental a se tornar imanente, e é nosso amor por Ele que nos permite transpormos da matéria para o espírito, experimentarmos nossa identidade além da matéria e nos situarmos na realidade espiritual.

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publicado por o editor às 14:09
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Segunda-feira, 4 de Julho de 2016

Vídeo-aulas de Kartalas (símbolos de mão)

 

Aprendendo Kartalas - Aula 1 Parte 1 - As Kartalas

 

 

 

 

 

 

 

 

Aprendendo Kartalas - Aula 1 Parte 1 - As Kartalas

 

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Aprendendo Kartalas - Aula 2 Parte 1 - Conteúdo da aula

 

 

 

 

 

 

 

 

Aprendendo Kartalas - Aula 2 Parte 1 - Conteúdo da aula

 

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Aprendendo Kartalas - Aula 3 (Completa)

 

 

 

 

 

 

 

 

Aprendendo Kartalas - Aula 3 (Completa)

 

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Aprendendo Kartalas -- Aula 4 (completa) 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aprendendo Kartalas -- Aula 4 (completa)

 

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publicado por o editor às 17:50
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Quinta-feira, 24 de Setembro de 2015

Pré-venda - GUIA COMPLETO DA BHAGAVAD-GITA, COM TRADUÇÃO LITERAL 

 

Importante Pré-Lançamento!

 

Guia Completo Da Bhagavad-Gita, Com Tradução Literal

Por Hridayananda Das Goswami

 

O tão esperado lançamento do Bhagavad-gita de Hridayananda Das Goswami já está disponível para pré-vendas.

 

Clique aqui para encomendar o seu: https://goo.gl/CnmsUS!

 

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Domingo, 23 de Agosto de 2015

A Ciência do Mantra

 

 

 

 

 

Purushatraya Swami

 

O mantra é uma composição de palavras de natureza exclusivamente espiritual, sem nenhuma conotação secular. Essas palavras possuem a potência intrínseca de atuar diretamente na consciência da pessoa. Devido à sua natureza puramente espiritual, o mantra tem o poder de elevar a consciência da pessoa, do nível material ao espiritual.

 

“Mantra” é uma entre várias palavras do idioma sânscrito que têm se infiltrado em nossa língua. Essa e várias outras palavras têm passado por um processo de aportuguesamento, tornando-se correntes em nosso idioma. Já conquistaram, inclusive, um lugarzinho nos mais conceituados dicionários da língua portuguesa. O sânscrito foi, num passado remoto, o idioma corrente da gloriosa Índia védica. Hoje em dia, é considerado pelos meios acadêmicos do Ocidente como uma “língua morta”. Existe, no entanto, um forte movimento nos meios acadêmicos indianos para restabelecer o sânscrito como o idioma corrente entre o povo, substituindo, assim, as dezenas de línguas oficiais e dialetos regionais encontrados na Índia. Isso certamente traria um sentido maior de unidade no país, afirmam eles.

 

A questão aqui é confirmar se o sânscrito está realmente “morto”, pois vemos que esse idioma milenar tem fornecido uma série de palavras que se incorporaram ao nosso vernáculo. Numa rápida passada de olhos, encontramos no “Novo Aurélio” várias palavras oriundas da mesma fonte, como, por exemplo: ioga, hata-ioga, ássana, carma, krishna, hare krishna, mandala, veda, védico, vedanta, upanixade, tantra, darsana, darma, pranama, prana, bramanas, brâmane, guru, Buda, atma. A lista certamente vai bem mais longe. Isso demonstra que certos valores culturais dessa tradição milenar estão resistindo ao crivo do tempo e ainda estão vivos e atuantes, conquistando gradualmente espaços na vida moderna contemporânea.

 

O sânscrito é considerado a língua mãe da humanidade. Sua gramática é elaboradíssima. Os mais antigos textos sagrados – os quatro Vedas, os Upanishades, os Puranas, os épicos Ramayana e MahabharataBhagavad-gita e muitos outros – são escritos em sânscrito. Uma característica única desse idioma é que uma vasta porção de seu vocabulário é constituído de palavras que expressam, com extrema precisão, os esotéricos e intrincados conceitos referentes à espiritualidade e à Transcendência. Nenhuma outra língua no mundo tem tal afinidade com os assuntos espirituais.

 

Lemos no dicionário Novo Aurélio: “Mantra [do sânscrito mantra, ‘instrumento para conduzir pensamento’]. No tantrismo, fórmula encantatória que tem o poder de materializar a divindade invocada”. Com referência a essa definição, queremos mostrar que o conceito de “mantra”, em vez de se fechar exclusivamente no tantrismo, que, de acordo com o dicionário, é “caracterizado pela magia e ocultismo”, pode abrir-se para diferentes enfoques e revelar caminhos de espiritualidade de extremo valor.

 

mantra é uma composição de palavras de natureza exclusivamente espiritual, sem nenhuma conotação secular. Essas palavras possuem a potência intrínseca de atuar diretamente na consciência da pessoa. Devido à sua natureza puramente espiritual, o mantra tem o poder de elevar a consciência da pessoa, do nível material ao espiritual. Na consciência espiritual, a consciência individual conecta-se com a Transcendência.

 

Podemos nos conectar com tais planos de consciência superiores basicamente de duas maneiras. Primeiramente, desenvolvendo-se uma potencialidade específica intrínseca da natureza humana – a intuição espiritual, ou, como normalmente é designada, a fé. Quando a fé está consubstanciada num intelecto purificado e forte, as possibilidades de se captar insightsda Transcendência são ilimitadas. A conexão da consciência individual com a Transcendência é feita a partir da meditação, da oração, da reflexão, da contemplação e, também, do doar-se.

 

Outra possibilidade de conexão com a Transcendência é através da prática de mantra-yoga. Essa prática pode ser sonora ou mental. A grande virtude do mantra é que o próprio som do mantra é investido de poder para desvendar e revelar realidades concernentes a planos de consciência superiores. É afirmado nas escrituras védicas que os nomes que designam a Divindade têm o poder, embutido na própria palavra, de revelar essa Divindade à consciência individual. Como é afirmado no texto sagrado Padma Purana – abhinnatvan nama-naminoh – “existe identidade (não-diferença: abhinnatva) entre o nome e aquilo que está sendo nomeado”.

 

No plano de existência material – fenomenal, empírico e relativo – em que vivemos, existe sempre uma dicotomia qualitativa entre a palavra e seu significado. A palavra “água” e a substância “água” são entidades diferentes. A conexão entre a palavra e a substância é meramente subjetiva. O pronunciar de “água” não aplaca a sede. Já no plano absoluto espiritual, a palavra em si encerra a potência vibratória que representa. Mesmo não conhecendo o significado, a vibração sonora do mantra atuará na consciência de quem o emite, assim como de quem escuta. É como um remédio apropriado para determinada enfermidade – mesmo sem conhecermos sua fórmula, somos beneficiados por sua ação curativa, obviamente se for usado de acordo com as prescrições médicas.

 

A repetição sistemática do mantra é, comprovadamente, um eficaz exercício para as funções mentais. Esse é o efeito mais tangível da prática de mantra-yoga. Com essa prática, a mente e o intelecto tornam-se mais ‘elásticos’, ‘flexíveis’, fortes, concentrados e controlados. Por outro lado, corrige-se a tendência à dispersão, falta de foco, preguiça mental, em suma, todos os tipos de limitações e travações mentais. Essa prática pode ser executada através da meditação silenciosa ou repetição sonora, como um murmúrio, denominado japa. Em ambas as práticas, prescreve-se uma postura sentada ereta (ásana), mente livre de qualquer turbulência ou distração e total concentração no som do mantra.

 

mantra também pode ser cantado em voz alta, agregando-se a ele uma melodia. Isso se chama kirtana, ou sankirtana, quando o canto é feito em grupo. Esse canto pode também estar associado à dança. Essa prática, se executada com absorção, espontaneidade e arrebatamento, é considerada como uma meditação dinâmica. O importante nessa prática é a pura expressão da alma. Deve-se, portanto, coibir as expressões corpóreas sensuais, que prendem a consciência ao plano físico grosseiro. O contato sistemático com o som puro do mantra purifica a mente. A pessoa adquire maior capacidade para manter sob controle as chamadas ‘paixões irracionais’, como ira, cobiça, inveja, ciúme, luxúria, assim como muitas outras dinâmicas mentais perversas, como diferentes tipos de compulsão, medos injustificados, depressão, tendências à lamentação, autopiedade, intriga, fofoca, etc.

 

mantra abre os canais da consciência para percepções suprassensoriais e sintoniza a consciência com níveis vibratórios superiores. Isso ocorre simultaneamente em duas vias: emissão e recepção. A emissão de vibração sonora mântrica, através de ação individual consciente e deliberada, faz com que a mente e a consciência, como um todo, vibre na mesma frequência espiritual do mantra. Por sua vez, essa vibração espiritual emitida atrairá uma vibração espiritual arquetípica, de mesma frequência, presente no éter. Esse mesmo princípio rege o funcionamento de um aparelho receptor comum de radiodifusão, o rádio de cabeceira ou o radinho de pilha: ele emite determinada frequência que, por sua vez, atrai as ondas da mesma frequência presentes no éter, que estão carregadas com as mensagens sonoras que foram emitidas na estação transmissora. De forma similar, a consciência individual pode conectar-se com a Transcendência e receber energia espiritual pela prática demantra-yoga. A consciência da pessoa fica sobrecarregada com energia espiritual.

 

Por fim, a prática do mantra causa uma revolução no coração. Os mais refinados sentimentos de amor a Deus, que podem fazer ‘amolecer’ os corações mais duros, são ‘efeitos colaterais’ do mantra. Muitas pessoas, hoje em dia, geralmente com certa escolaridade, mas carentes de cultura espiritual, desenvolvem uma atitude fria, indiferente, crítica e até cínica com respeito à espiritualidade. A tendência é desdenhar a consciência religiosa, considerando-a meramente sentimental e piegas. A ideia de Deus é tida como algo concebido pela mente humana. Considera-se que a fé é um mecanismo mental vicioso para compensar alguma carência psíquica. Com isso, a vida em nosso plano de existência perde todo o caráter sagrado. O próprio fenômeno da consciência e do milagre da vida são tratados com a mesma metodologia mecanicista e reducionista usada na manipulação dos fenômenos e elementos físicos grosseiros. Essa maravilhosa criação cósmica fica reduzida a um fluxo aleatório de forças exclusivamente materiais, sem nenhum vínculo com a Transcendência.

 

Pois bem, pela prática do mantra pode-se reverter radicalmente esse quadro. É o que podemos chamar ‘mudança de paradigma’. Uma nova visão de mundo passa a enfocar mais as maravilhas do fenômeno da vida, assim como a realidade de Deus e nossa dependência nEle. A vida passa a ter um significado, assume uma nova dimensão. O meio ambiente, por mais adverso que seja, deixa de implacavelmente influenciar a consciência. A consciência desperta, superando assim o perigo da alienação, ignorância e autodestruição. Olha-se sempre para frente – do passado, só os ensinamentos derivados das experiências. A morte, que normalmente é tida como o terror da vida, passa ser o marco de uma renovação muitíssimo auspiciosa – fim de um ciclo e começo de outro, melhor. Por fim, no coração acende-se a chama beatífica do amor a Deus, a máxima conquista da existência terrena.

 

Dentre os muitos mantras da tradição védica, um, particularmente, tem uma importância especial. Trata-se do maha-mantraHare Krishna. (maha-mantra significa “grande mantra”) Esse mantra védico está enunciado no Kalisantarana Upanishad, verso seis do quinto capítulo. É formado por três palavras – Hare, Krishna e Rama –, que se combinam de um jeito bem particular:

 

hare krishna hare krishna

krishna krishna hare hare

hare rama hare rama

rama rama hare hare

 

Essa mesma escritura explica: “Essas dezesseis palavras do maha-mantra têm o poder de neutralizar os efeitos negativos da sofrida era de Kali (Kali-yuga) em que vivemos. Todas as escrituras confirmam que não existe processo mais potente de elevação espiritual do que o canto ou meditação desse mantra”.

 

Tenho tido uma experiência diária com o maha-mantra nos últimos trinta anos. Nessa prática, usa-se um rosário com cento e oito contas, chamado japa-mala. Uma das experiências que podemos ter, depois de todos esses anos, é que o maha-mantracontinua com o mesmo frescor que teve ao início de nossa prática. Ouso inclusive dizer que se torna cada vez mais deleitável e renovado. Essa é uma prova cabal de sua natureza transcendental. Qualquer som secular já teria chegado aos limites da saturação.

 

Visite o site de Purushatraya Swami:

 

 

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Do Blog Volta ao S

 upremo. Leia outros artigos em www.voltaaosupremo.com.

 

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Sexta-feira, 7 de Agosto de 2015

Gravado no Paraíso

 

Entrevista com Giridhari Dasa

Canal de YouTube sobre a consciência de Krishna completou um ano em maio, e Volta ao Supremo entrevistou seu criador para saber como o canal teve início, qual foi a inspiração, quais os vídeos favoritos e mais.

Volta ao Supremo: Seu canal de YouTube completou um ano de atividades em maio, com quase 100 mil visualizações e bem mais de 1000 inscritos [hoje está com 143 mil visualizações e 1832 inscritos]. Para quem não o conhece, pode comentar sobre qual é a proposta do seu canal de vídeos?

Giridhari: A proposta do meu canal é igual a tudo mais que tento fazer: facilitar às pessoas em geral o acesso ao maravilhoso caminho da consciência de Krishna e Srila Prabhupada.

Volta ao Supremo: Além da plataforma relativamente inovadora, a forma como o conhecimento é apresentado também é, de alguma forma, inovadora?

Giridhari: De fato estou, sim, explorando novas maneiras de apresentar nossa milenar tradição e seus pontos mais importantes. Estou buscando uma linguagem bem acessível e universal. Busco tocar em assuntos corriqueiros e enfatizar a aplicação real, no dia-a-dia, dos nossos conceitos.

Volta ao Supremo: São, em geral, vídeos curtos. Por quê?

Giridhari: Pesquisas mostram que os vídeos mais compartilhados no YouTube têm uma duração média de 3 minutos. Tem muita gente, falando muita coisa, muitos vídeos, muitos textos, muitos livros... estamos sobrecarregados. Assim, para ser ouvido, é melhor manter sua mensagem curta e simples, bem como facilmente digerível. Caso contrário, são poucos e raros os que terão tempo (vontade) para lhe dar atenção todas as semanas.

Volta ao Supremo: Qual vídeo mais gostou até agora?

Giridhari: Difícil dizer. Gosto de todos, para ser sincero! Fico feliz que um dos mais visualizados seja o primeiro, onde ensino a fazer a meditação de japa, nossa meditação mântrica. Já está com quase 9 mil visualizações. (goo.gl/7TuwhD) Outro que gosto muito é aquele que explico a importância histórica de Srila Prabhupada. (goo.gl/YHhPZl)

Volta ao Supremo: A que acha que se deve o sucesso do vídeo sobre meditação mântrica?

Giridhari: Acho que preencheu uma lacuna: um vídeo prático ensinando esta poderosa e milenar prática de meditação em português. Simplesmente não tinha um, que eu saiba.

Volta ao Supremo: O público interage bem com os vídeos? As pessoas costumam escrever comentando o impacto dos mesmos em suas vidas?

Giridhari: Sim, isso tem me inspirado muito. Tenho recebido muitos e muitos comentários incríveis. Pessoas me escrevem pelo Facebook, pelo meu site e direto na página dos vídeos, com testemunhos belíssimos. Isso tem me motivado e me mostra que esta abordagem é muito válida e eficaz.

Volta ao Supremo: De onde surgiu a ideia do canal? No princípio, imaginou que teria o sucesso que tem?

Giridhari: Krishna tem me inspirado, há anos, a trabalhar com vídeos. Ficava sem saber por onde começar, como fazer. Fiquei enrolando Krishna! Aí finalmente venci minha inércia e comecei a fazer, em maio de 2014.

Imaginei que, no começo, teria algo em torno de 60 visualizações para um vídeo, ou até menos. Me surpreendi com o resultado. Ao mesmo tempo, nunca esqueço que, no mundo YouTube, um vídeo com mil visualizações é um zero à esquerda. Não é nada. Então, estou ciente que 100 mil visualizações em um ano é completamente insignificante. Mas neste caminho fazemos nosso melhor e oferecemos o resultado a Krishna. Assim, não dou bola quando surge na minha mente essa ânsia sobre o número de visualizações ou de inscritos. Deixo isso com Krishna e simplesmente tento fazer bons vídeos.

Volta ao Supremo: Qual a periodicidade dos vídeos?

Giridhari: Sempre coloco um novo vídeo no ar todas as terças-feiras, às 8 da manhã.

Volta ao Supremo: Qual o perfil do público alcançado? É um público amplo ou mais específico?

Giridhari: Creio que seja um público bem amplo, até pelo fato de tantas novas pessoas me procurarem pelo Facebook, pessoas que não conhecia antes.

Volta ao Supremo: Onde acontecem as gravações? Como são feitas?

Giridhari: As gravações acontecem aqui no Paraíso dos Pândavas. Temos 400 hectares aqui, com muitos lugares bonitos – afinal, é realmente um paraíso. Faço em diferentes lugares, de acordo com a inspiração e o horário do dia. Faço de forma muito simples. Até o final do ano passado, estava fazendo com meu celular mesmo! Agora estou com uma câmera de vídeo simples, mas boa: a Canon Vixia Mini X. Faço tudo sozinho. Levo o tripé, a câmera e uma almofada (às vezes esqueço a almofada e me arrependo!) e gravo o vídeo. Faço sem script, na inspiração, sem cortes.

Volta ao Supremo: Você comentou sobre ter demorado para haver um vídeo explicando como cantar japa. Que outras coisas básicas você acha que já deveríamos ter há muito tempo e ainda não temos?

Giridhari: Acho que temos que ter tudo bem explicado em vídeo: como adorar a Deidade, como oferecer prasada, tocar harmônio, aulas e cursos completos etc.

Volta ao Supremo: Você pretende fazer tudo isso ou parte disso? Quais os planos agora com um ano de experiência?

Giridhari: Tenho um estilo mais intuitivo. Deixo Krishna me guiar, sem planos muitos distantes. Vou sentindo e vendo o que Krishna quer e tentando satisfazê-lO.

Volta ao Supremo: Gostaria de deixar uma última mensagem?

Giridhari: Gostaria de encerrar esta entrevista encorajando mais devotos a explorarem este recurso, o YouTube. É uma questão de tempo, pouco tempo, eu imagino, até chegarmos ao ponto de termos redes 4G pelo Brasil nas grandes cidades e, assim, planos de celular cada vez mais baratos de uso livre de dados. Com isso, haverá um tremendo aumento na visualização de vídeos na internet. Diferentes devotos podem fazer diferentes canais, cada um com seu ângulo. Já imaginou um canal de culinária Hare Krishna? E, então, outro de música, de palestras, outro no estilo do meu com curtas mensagens, ainda outro só sobre adoração de Deidade etc.? Vamos pensar nisso?

Inscreva-se no canal: www.youtube.com/user/gdtubebr.

Se gostou deste material, também gostará destes: Grupo de Estudos Védicos:  Quando o Facebook é Sadhu-sangaMinistério Prisional da ISKCON: Liberdade Espiritual Atrás das GradesSankirtana: Nós e o Público.

 

 

Do Blog Volta ao Supremo. Leia outros artigos em www.voltaaosupremo.com.

 

publicado por o editor às 13:22
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