Terça-feira, 20 de Novembro de 2007

VIRGENS E OUTROS HERÓIS

A colonização do Brasil tinha os seus desenredos, degredados, cristãos novos e prostitutas, vinham em levas para compor o que se convencionou chamar de ocupação do litoral. É interessante acompanhar a saga das "alminhas órfãs" trazidas ao Brasil. Na verdade, levas de jovens prostitutas foram entregues a própria sorte no Brasil. Essa história é magistralmente contada em "Desmundo" (Cia das Letras) de autoria de Ana Miranda. Através da narrativa de Oribela, o leitor ingressa em formas de ação e de pensamento da época, deparando-se com aspectos tais como existência feminina, religiosidade, nova terra, amor e sexualidade através do pensamento da personagem que é pontilhado de crenças, medos e questionamentos diante do mundo/desmundo que a ela se apresenta.

Outros de nossos heróis foram de tal forma cristianizados que seu aspecto, nas mãos de nossos ilustradores e pintores foi se alterando. Em Tiradentes temos o melhor exemplo. A começar que o historiador inglês Kenneth Maxwell, em "A devassa da devassa" (Terra e Paz) diz que "a conspiração dos mineiros era, basicamente, um movimento de oligarquias, no interesse da oligarquia, sendo o nome do povo invocado apenas como justificativa", e que objetivava, não a independência do Brasil, mas a de Minas Gerais." Os estudos apresentam um Tiradentes sem barba e nunca o líder que foi apresentado e segundo o autor Joaquim José da Silva Xavier seria apenas e tão somente um possível "bode expiatório" da conspiração. Botando mais "lenha na fogueira" encontramos um artigo do historiador Marcos Antonio Correa (publicado no Jornal Folha de São Paulo) onde defende que Tiradentes não morreu enforcado em 21 de abril de 1792, como conta a Historia Oficial.

Fundamenta sua suspeita com uma lista de presença da Assembléia Nacional francesa em 1793, onde consta a assinatura de um tal de Joaquim José da Silva Xavier. Um estudo grafotécnico permitiu-lhe concluir que se tratava da assinatura de Tiradentes. Ainda segundo ele um ladrão morreu no lugar de Tiradentes, em troca de ajuda financeira à sua família, oferecida pela maçonaria. E mais, que testemunhas da morte de Tiradentes surpreenderam-se porque o executado aparentava ter menos de 45 anos. Segundo o historiador Tiradentes teria sido salvo pelo poeta Cruz e Souza, maçom, amigo dos inconfidentes e um dos juízes da Devassa. Salvo da forca foi embarcado incógnito para Lisboa em agosto de 1792.

Mas ainda vale a lavra da SENTENÇA DE CONDENAÇÃO de 18 de abril de 1792.- "...Mostra-se que entre os chefes, e cabeças da Conjuração o primeiro que suscitou as idéias de república foi o Réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o Tiradentes, Alferes que foi da Cavallaria paga da Capitania de Minas, o qual a muito tempo, que tinha concebido o abominável intento de conduzir os povos daquella Capitania a uma rebelião; (...)Portanto condenam ao Réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o Tiradentes Alferes que foi da tropa paga da Capitania de Minas a que com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas publicas ao lugar da forca e nella morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Villa Rica aonde em lugar mais publico della será pregada, em um poste alto até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes pelo caminho de Minas no sitio da Varginha e das Sebolas aonde o Réu teve as suas infames práticas e os mais nos sitios (sic) de maiores povoações até que o tempo também os consuma; declaram o Réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens applicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Villa Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique..."

Em tempo, na mesma sentença lê-se que -"... Mostra-se mais que este abominável Réu ideo a forma da bandeira que ia ter a república que devia constar de três triângulos com allusão as três pessoas da Santíssima Trindade o que confessa a folhas 12 verso do appenso n. 1 ainda que contra este voto prevaleceu o do Réu Alvarenga que se lembrou de outra mais allusiva a liberdade que foi geralmente approvada pelos conjurados;" Na primeira edição de sua revista "Nossa História" da Biblioteca Nacional encontramos na sessão Almanaque a nota "Erro de Tradução" - "...na verdade a tradução do lema libertas quae sera tamem, famoso por figurar na bandeira dos inconfidentes,e hoje na bandeira Minas Gerais, está errada. A expressão foi tirada de um poema de Virgílio, que diz: ' a liberdade, ainda que tarde,apoderou-se, porém, do inerte'. Fora desse contexto, não faz muito sentido. "Liberdade ainda que tardia", em latim, seria apenas libertas quae sera,enquanto que libertas quae sera tamen, numa tradução literal, significa 'a liberdade que tardia, porém'".

sinto-me:
publicado por o editor às 23:24
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