Quinta-feira, 3 de Outubro de 2013

Dia da Criança vem aí e os pequenos querem iPhones, iPads e muito mais: “Mãe, se meu amigo tem, por que você não quer comprar um pra mim?”

 







Porque, como mostram Cássia D´Aquino e Maria Tereza Maldonado em Educar para o consumo (Papirus 7 Mares), atender a todos os desejos do filho pode transformá-lo em um consumista eternamente insatisfeito
O 12 de outubro está chegando e inúmeras crianças já estão com uma lista de pedidos pronta para apresentar aos pais, da qual constam inclusive itens caros e de alta tecnologia, como iPhones, iPads, videogames de última geração e muito, muito mais. Cada vez mais cedo os filhos pedem para os pais comprarem coisas. Qualquer coisa. E boa parte dos pais atende a todos os desejos de crianças e adolescentes, tornando-os extremamente consumistas e podendo, dessa maneira, prejudicar o futuro deles. Essa realidade é demonstrada – e combatida – pelas autoras Cássia D´Aquino e Maria Tereza Maldonado em Educar para o consumo: Como lidar com os desejos de crianças e adolescentes, da Papirus 7 Mares.
“Os pais não estão discernindo entre os desejos e as necessidades de seus filhos e, com isso, estão gerando crianças e adolescentes extremamente consumistas. Isso leva a uma confusão entre ter e ser – a criança cresce achando que ter algo é mais importante do que ser, ela se define pelo que usa e perde a oportunidade de desenvolver a riqueza interna”, diz a psicoterapeuta Maria Tereza.
Além disso, acrescenta que o consumismo exacerbado leva a criança a não saber diferenciar o que deseja do que realmente precisa e a não conseguir estabelecer prioridades na vida. “E Isso cria uma sucessão de desejos que leva a um consumo desenfreado, mas não resulta em satisfação: nunca esse buraco é preenchido, pois a satisfação vem pelo desenvolvimento como pessoa e não pelo que se possui”, diz.
Cássia D´Aquino, especialista em educação financeira, destaca que o fenômeno consumista entre as crianças brasileiras começa cada vez mais cedo. “Até pouco tempo atrás, a idade média em que uma criança pedia para que o pai comprasse algo era dois anos e oito meses. Hoje já é dois anos e três meses e isso vai cair ainda mais, rapidamente. Os modelos de família que temos hoje priorizam o consumo. Nos finais de semana os pais levam as crianças ao shopping para comprar, em vez de passear, brincar, passar o tempo com os filhos”, pontua.
O livro, resultado de uma conversa promovida pela editora entre as autoras, traz inúmeros relatos sobre o problema. Há, inclusive, crianças que se definem como “vítimas das vitrinas” e pais que compram smartphones para meninos e meninas que nem chegaram a um metro e trinta. As autoras mostram a influência perniciosa da publicidade, mas ressaltam que, por mais que ela exista, o comportamento consumista deriva da família e de genitores que não sabem dizer “não” e constantemente cedem a uma das frases mais ouvidas em casa: “meu amigo tem, então eu também quero”.
Maria Tereza e Cássia mostram as razões dessa ampla concessão, entre elas o medo (ingênuo) dos pais de não serem amados e gerarem grandes frustrações nos filhos se não cederem à comodidade de evitar uma discussão durante o tempo cada vez mais escasso que passam com as crianças
“A ideia de trauma, por exemplo, de que não se pode frustrar a criança, é a contramão de tudo o que há na psicanálise, que fala exatamente de ordenar, de disciplinar o desejo. Quando uma mãe fala sobre esse medo, pergunto se ela se lembra de algo que pediu aos próprios pais e eles negaram. Ela diz que sim e eu pergunto: você superou? Continuou a amar seus pais mesmo assim? É claro que sim! Sempre haverá gente que tem o que a gente não tem. É do ser humano invejar, mas cabe aos pais perceberem o que o filho pede porque apenas mimetiza o ambiente e aquilo de ele que realmente precisa. Não vejo razão para crianças de cinco ou seis anos terem um smartphone e isso acontece muito”, diz Cássia.
Maria Tereza destaca que muitas vezes os pais acatam os desejos consumistas dos filhos simplesmente por comodidade. “Acham que é mais fácil dar logo o que é pedido do que colocar limites. Mas é um pensamento limitado. É mais prático a curto prazo dar o brinquedo do que dizer não para a criança que está abrindo um berreiro no meio da loja, mas esta é uma visão de curto alcance. A médio e a longo prazo se cria um ser que cresce achando que o mundo lhe deve, que, por ser filho, o mundo deve lhe dar o que deseja. Ele não consegue regular o desejo nem discernir o que realmente quer”, alerta.
Nas 112 páginas do livro, o leitor se depara com um material riquíssimo e um alerta contundente. Mas encontra também um alento: existe uma saída para o dilema das crianças consumistas e ela está na readequação de valores da família.
“A família tem de se dar conta que é possível e importante decidir que tipo de futuro quer para os filhos. É preciso ser responsável pelo futuro dessa criaturinha na medida das nossas possibilidades, pensar em como os filhos serão dali a 25 anos se forem criados daquela forma. O capitalismo é cruel em quase todo o mundo, a publicidade é avassaladora, mas por que há famílias que conseguem fazer de uma maneira e outras não? Porque não seguem o modelo consumista: nenhuma influência externa é páreo ao exemplo que os pais dão aos filhos”, conclui Cássia.
“Consuma sem consumir o mundo que você vive. É preciso ter consciência de que o consumismo exacerbado não é o melhor modelo para a vida. Só com essa consciência e determinação surgirão pequenas e grandes ações para mudar esse cenário”, finaliza Maria Tereza.




Ficha técnica:
Educar para o consumo: Como lidar com os desejos de crianças e adolescentes
Cássia D’Aquino e Maria Tereza Maldonado
112 pp.
R$ 36,90


Sobre as autoras:
Maria Tereza Maldonado – Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio, foi professora da PUC-Rio e da Universidade Santa Úrsula. Atua em projetos sociais de algumas ONGs, e, como consultora e psicoterapeuta trabalha com pessoas de todas as idades. É autora de vários livros e artigos especialmente na área de educação, e faz palestras em todo o Brasil.
Cássia D'Aquino – Educadora com especialização em crianças, pós-graduada em Ciências Políticas, é autora de artigos e livros sobre educação financeira. Criadora e coordenadora do Programa de Educação Financeira em várias escolas do Brasil, é membro da International Association for Citizenship, Social and Economics Education (IACSEE). Atua como palestrante em congressos no Brasil e exterior. É a representante brasileira do Global Financial Education Program, iniciativa voltada para o desenvolvimento da educação financeira da população de baixa renda em todo o mundo. É ainda assessora de diversas instituições públicas e privadas para criação e desenvolvimento de programas de largo alcance. Entre outras, podem ser destacadas suas participações em projetos do Banco Central do Brasil, Banco Nacional de Angola, BM&F Bovespa, Febraban, Serasa Experian e United States Agency for International Development (Usaid).
publicado por o editor às 23:03
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