Exposição de artista polonês inaugura parceria entre Centro Cultural BNB e Fundação Joaquim Nabuco
A exposição do artista polonês Artur Zmijewski inaugura parceria entre o Centro Cultural Banco do Nordeste e a Fundação Joaquim Nabuco para a realização de ações nos campos da cultura, arte, educação e memória. A abertura da exposição contará com a presença da diretora de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco, Silvana Meireles.
Com entrada franca, a mostra será aberta no Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 - Centro - fone: (85) 3464.3108), no próximo dia 30 (quarta-feira), às 20 horas, e ficará em cartaz até 31 de dezembro (horários de visitação: terça-feira a sábado, de 10h às 20h; e aos domingos, de 12h às 18h). O curador da exposição e coordenador de Artes Visuais da Fundação Joaquim Nabuco, Moacir dos Anjos, proferirá duas palestras sobre a relação entre Arte e Política, na abertura (dia 30) e no dia seguinte (1º de dezembro), sempre às 18h30.
A mostra integra o projeto Política da Arte, iniciado em 2009, na Fundação Joaquim Nabuco, sob o pressuposto de que mais do que dar visibilidade a imagens e ideias criadas em outras partes, a arte é capaz de, a partir dela mesma, desafiar os consensos e acordos que organizam e apaziguam a vida. Ao embaralhar os temas e as atitudes que a cada lugar e momento cabem no campo do possível, a arte aponta para a possibilidade do novo e tece a sua própria política.
Artur Zmijewski nasceu em 1966 em Varsóvia, Polônia, onde vive. Estudou escultura na Academia de Belas Artes de Varsóvia entre 1990 e 1995, mas logo se destacou por seus cáusticos vídeos, nos quais torna visíveis situações e fatos que os consensos sociais transformam em tabu. Em diversos trabalhos feitos no início de sua trajetória expôs, com calculada crueza, a vida de pessoas com deficiências físicas crônicas ou com doenças incuráveis, concedendo voz e imagem àqueles cuja presença pública causa inequívoco desconforto aos supostamente sãos. Em outra série articulada de vídeos, investigou e exibiu os cotidianos banais de trabalhadores comuns, desprovidos de qualquer apelo que justifique, na hierarquia de valores que organiza o corpo social contemporâneo, olhar tão cuidadoso e atento. Em um terceiro conjunto de vídeos - dos quais os apresentados nesta exposição são parte importante -, o artista discute, por meio das tensas e críticas narrativas que constrói, contextos políticos e históricos permeados por conflitos abertos ou por velados antagonismos.
No mais antigo dos vídeos de Artur Zmijewski contidos na mostra, The Game of Tag (1999), o artista exibe um grupo de homens e mulheres de idades variadas jogando uma espécie de 'jogo de pegar'. Eles estão despidos e confinados no interior de espaços claustrofóbicos. É a informação fornecida ao final do vídeo que retrospectivamente transforma imagens de diversão, erotismo latente e gradual desconforto dos jogadores em lembranças de crimes e traumas.
A memória individual e coletiva é também questão central em 80064 (2004). Nesse vídeo, Artur Zmijewski tenta persuadir um antigo prisioneiro de campo de concentração nazista a 'renovar' o número de identificação que traz desde a década de 1940 tatuado no braço, marca inescapável das humilhações e violências sofridas no passado. Mesmo diante da hesitação e nítido incômodo que o antigo prisioneiro, agora com 92 anos, demonstra com a situação criada, o artista insiste em reavivar a tatuagem que atesta a condição daquele. Pressão a ceder ao domínio do outro que evoca, simbolicamente, situações que, como prisioneiro de guerra, o participante do vídeo já se submetera para sobreviver em meio à barbárie.
Em Them (2007), mais recente dos três vídeos da mostra, Artur Zmijewski documenta uma série de workshops de pintura que organizou reunindo grupos de diferentes estratos ideológicos da Polônia contemporânea: cristãos, judeus, jovens socialistas e nacionalistas poloneses. O artista solicita que cada grupo crie imagens que correspondam, simbolicamente, aos valores que partilham, para em seguida pedir que interfiram nas pinturas feitas pelos outros. Ao passar do tempo, essas interações geram crescente discordância e tensão entre os participantes, a ponto de colocar em dúvida a possibilidade de se explicitar diferenças sem se impor ao outro de modo violento, no limite aniquilando-o.
Não importa qual seja o assunto que lide, contudo, a obra de Artur Zmijewski se reveste sempre de ambiguidade moral: seja em relação àqueles que participam de seus vídeos, seja em relação ao público que os assiste. Quanto aos primeiros, não fica claro se o papel do artista é o de organizador de vontades autônomas que por meio de seus vídeos se expressam, ou se o de frio manipulador que usa os participantes para justificar uma narrativa que lhe interessa criar. Quanto à audiência, tampouco fica evidente se seu intuito é o de esclarecê-la, provocá-la, ou ainda de implicá-la nos dilemas éticos que expõe. Mas quaisquer que sejam as motivações que levam Artur Zmijewski a realizar seus vídeos, é certo que eles estão entre as mais originais e instigantes formulações de uma política da arte no mundo contemporâneo.