Quarta-feira, 11 de Março de 2009

MEMÓRIAS DO ABADE DE CHOISY VESTIDO DE MULHER


MEMÓRIAS DO ABADE DE CHOISY VESTIDO DE MULHER
de Leonardo Fróes

Páginas:160
 

Um abade travestido, fazendo-se passar por uma grande dama e dando prazeres às suas namoradinhas em plena França do século XVII. Essas são as aventuras vividas pelo jovem François-Timoléon de Choisy (1644 - 1724) e contadas em Memórias do Abade de Choisy vestido de mulher, uma das mais conhecidas obras do autor francês, decano da Academia Francesa, à qual pertenceu por 38 anos, e que escreveu também livros de caráter religioso e histórias da realeza. Este personagem libertino e anômalo, precursor do Marques de Sade, que reconta suas memórias picantes já na terceira idade, é mais um precioso título da coleção Avis Raras, que reúne livros raros, em edição cuidadosa da Rocco.

Em sua mocidade, Choisy viveu como madame de Sancy e condessa des Barres. Durante esse tempo, o jovem gostava de usar trajes femininos e embelezar-se. Penteados, vestidos finos, joias e maquiagem davam enorme prazer a Timoléon, que, como filho mais novo, estava destinado à vida religiosa. Ele foi nomeado abade aos 19 anos.

Quando criança, ele já era vestido como uma menina por sua mãe – parte por costume da época, parte por interesses de madame Choisy –, e até interferiram em seu corpo para que se formasse busto e não crescesse barba. Um hábito de infância do qual ele próprio considerava difícil de se livrar. "Eu, já de orelhas furadas, usava diamantes e pintas e todas essas afetaçõezinhas às quais a gente tão facilmente se acostuma e das quais dificilmente se desfaz.”

Choisy gostava de mostrar-se em festas e eventos sociais e, sobretudo, de ser chamada de linda senhora. Além de enfeitar-se, outra distração do abade era seduzir jovens moças a sua volta. Ele as levava para sua casa e cuidava para que as meninas ficassem à altura de sua beleza enquanto as introduzia ao sexo e ensinava-lhes algo, como penteados e atuação teatral. Timoléon chegou a se casar com mademoiselle Charlotte, que se vestiu de noivo para a festa e só andava como um rapaz pela casa.

Em suas memórias, Choisy esclarece as razões do travestismo que o levou a tantas aventuras picantes. Ao vesti-lo como menina desde a infância, a mãe o teria submetido a um processo planejado de feminilização, para assim transformá-lo no melhor amigo do irmão mais novo de Luís XIV, que foi deliberadamente criado como mulher para não sentir qualquer atração pelo poder ou representar qualquer ameaça à soberania dele.

Para Leonardo Fróes, que assina a tradução e o posfácio da obra, iludir os outros era o maior prazer que o travestismo dava ao abade. O dom de enganar o olhar, fazendo-se passar pelo que não era, norteava as artes plásticas da época, quando o barroco e suas tortuosas e sedutoras linhas imperavam, fazendo-se visível também no comportamento dúbio de Choisy.

Estima-se que o abade tenha revivido suas lembranças libertinas aos 80 anos, pouco antes de sua morte, ao escrever sobre sua fase de travessuras galantes, encerrada no fim de 1674, após perder tudo no jogo – vício herdado de sua mãe. As histórias contadas por Choisy envolvem pelos requintes de detalhes, principalmente no que se refere à maneira como arrumava a si e a suas namoradas, e ajuda a entender um pouco dos costumes do século XVII, além de antecipar comportamentos como o travestismo e o crossdresser – que, ainda hoje, são considerados transtorno de identidade de gênero por muitos.



O AUTOR

François-Timoléon de Choisy, nascido em 1644, em Paris, foi decano da Academia Francesa, ao lado de confrades como La Fontaine e Racine. Nomeado abade de Saint-Seine aos 19 anos, Choisy formou-se em teologia na Sorbonne, em 1666. Após o período de aventuras travestido de mulher, em 1676, o abade vai a Roma e assessora o cardeal Bouillon na eleição do novo papa, Inocêncio XI. Seis anos depois, ele volta a morar em Paris e publica seu primeiro trabalho literário História da Guerra da Holanda. Após adoecer gravemente e receber a extrema-unção, Choisy fica curado, se converte e vai para o seminário das Missões Estrangeiras. Em 1684, é nomeado coadjutor do embaixador de Sião. A partir de então, ele publica uma série de livros de religião e de história até sua morte, em 1724.




O TRADUTOR
Leonardo Fróes

Leonardo Fróes ganhou o prêmio Jabuti de Poesia, em 1996, e os prêmios de tradução da Biblioteca Nacional, em 1998, e da Academia Brasileira de Letras, em 2008. É um dos mais respeitados tradutores do país, graças aos trabalhos realizados com grandes nomes da literatura, como William Faulkner, George Eliot, Malcolm Lowry e Lawrence Ferlinghetti. Leonardo Fróes mora em Petrópolis, Rio de Janeiro.

UM LANÇAMENTO




publicado por o editor às 11:27
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1 comentário:
De car insurance a 10 de Agosto de 2009 às 06:31
Uau moi obrigado pola información interesante e informativo este post


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