O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu aumentar em meio ponto percentual a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, levando-a para o patamar de 14,25% ao ano. A decisão veio acompanhada de duas novidades: em primeiro lugar, a abstenção do diretor de assuntos internacionais, Tony Volpon, por ter supostamente antecipado seu voto em reunião pública com investidores dias antes da reunião do Copom; em segundo, uma mudança no comunicado do BC acerca da reunião, deixando claro que pretende manter o atual patamar de juros como estratégia de combate à carestia e de controle das expectativas inflacionárias. Com isso, esta deve ser a última elevação dos juros nos próximos meses, que já esteve em 7,25% no primeiro mandato da presidenta Dilma, tendo desde então passado por sucessivas elevações que praticamente dobraram a taxa de juros nominal e quintuplicaram os juros reais.
Comentário: O aumento dos juros era esperado pela maior parte dos agentes, tendo em vista que o Banco Central tem se mantido firme em sua estratégia de trazer as expectativas de inflação de 2016 para próximo do centro da meta. Muitos fatores podem ser alegados pelos diretores do BC para justificar o aumento da Selic: a necessidade de ancoragem e recomposição das expectativas, os riscos de novas rodadas de desvalorização cambial (que pressionariam a inflação no curto prazo), os índices de inflação em contínua elevação (hoje mesmo o IGP-M acelerou para 0,69% em julho, somando 6,97% em doze meses) e até mesmo o risco de deterioração do cenário fiscal, que até o momento vinha sendo contabilizado como um fator de contenção dos preços. Nenhum destes fatores, no entanto, é capaz de esconder o fato de que, em uma economia em desaceleração, a alta dos juros apenas aprofunda a espiral recessiva, reduz salários, diminui os investimentos e deteriora o já complexo quadro fiscal brasileiro. Na realidade, a combinação de ajuste fiscal e ajuste monetário, da maneira que vem sendo conduzida, implica em uma transferência de renda direta dos trabalhadores e das populações mais carentes, que dependem dos serviços e transferências públicas, para as classes que vivem de renda, ancoradas na dívida pública. Os efeitos deste ajuste sobre a inflação são, no mínimo, duvidosos, sendo que boa parte da inflação é explicada pelo aumento das tarifas públicas, não havendo evidências de inflação de demanda no período atual. O processo de ancoragem das expectativas é explicado fundamentalmente pelo aprofundamento da recessão, deixando evidente que a estratégia de controle da inflação passa pelo aumento do desemprego e pela deterioração do mercado de trabalho. Por fim, os efeitos do ajuste monetário sobre as contas públicas é desastrosa, aumentando os gastos com juros e reduzindo a arrecadação pública (via fortalecimento da recessão). Com isso, o BC está jogando por terra todo o esforço fiscal primário do governo e elevando a relação dívida/PIB, fator que justificou inicialmente o discurso em defesa do ajuste fiscal. A boa notícia do dia fica, portanto, com a decisão do Copom de encerrar os aumentos da Selic, colocando fim ao ajuste monetário que vem criando um grande desajuste econômico.