Conversa entre Solange Farkas, curadora e diretora do Videobrasil, o jornalista Fabio Cypriano e o pesquisador Eduardo de Jesus tem como foco coleção que sintetiza
a rica trajetória da produção de vídeo no contexto das artes
Desde 1983, quando foi realizado o primeiro Festival do Videobrasil, uma singular coleção vem sendo formada. Sua importância pode ser dimensionada não só pelo expressivo número de itens deste acervo – são cerca de 1.300 obras em vídeo, videoinstalação e registros de performances – como pela presença dos mais importantes artistas que trabalham com estes suportes no Brasil e em países do Sul global, recorte estabelecido pela Associação Cultural Videobrasil para a escolha dos participantes das mostras competitivas do Festival. Além disso, o conjunto de trabalhos é um dos mais significativos registros da trajetória do vídeo como expressão artística desde seus primórdios, quando ainda buscava definir uma identidade, até hoje, com sua reconhecida presença como linguagem na arte contemporânea.
A formação, preservação e ativação desse acervo foram abordadas na conversa entre a fundadora e diretora do Videobrasil, Solange Farkas, o jornalista Fabio Cypriano e o pesquisador Eduardo de Jesus, no dia 21 de outubro de 2014, às 20h, marcando o segundo encontro dos Programas Públicos da exposição Memórias Inapagáveis – um olhar histórico no acervo videobrasil. O tema perpassa a publicação Memórias Inapagáveis, lançada durante o encontro, composta por ensaios de 18 pesquisadores e curadores sobre as obras da exposição em cartaz no Galpão do Sesc Pompeia, até o dia 30 de novembro.
Para Solange, a realização desta primeira exposição focada unicamente nas obras do Acervo Videobrasil, assim como a publicação que aprofunda o pensamento sobre a exposição, são dois exemplos das estratégias da Associação Cultural Videobrasil para a ativação das obras do seu acervo. Segundo explicou Solange Farkas, “além da salvaguarda da coleção, a missão da Associação é buscar a difusão das obras destes artistas do Sul global e a ampliação do acesso à arte contemporânea. Neste sentido, tanto a exposição, com a curadoria de Agustín Pérez Rubio, quanto o livro, com ensaios dos autores convidados, recontextualizam, atualizam e agregam novos valores às obras da coleção, possibilitando leituras diversas e aprofundando a reflexão em torno das proposições dos artistas”.
Eduardo de Jesus, professor da PUC de Minas Gerais, comenta que a exposiçãoMemórias Inapagáveis inaugura uma iniciativa que talvez fique mais frequente nas ações do Videobrasil, que é a de olhar para o seu arquivo propondo novas articulações. “O curador Agustín Pérez Rubio foi preciso em seu recorte. Essa exposição funciona como uma espécie de ‘dobra’. A memória é foco das obras da exposição, mas remete ainda ao próprio acervo, retomando obras produzidas ao longo dos últimos trinta anos, como uma amostra das três décadas do Festival”,ressalta Eduardo.
Já Fabio Cypriano, que mediou o encontro, ressaltou o teor fortemente político da exposição e da coleção e destacou ainda o respeito do Videobrasil aos artistas, que são convidados a deixar suas obras no acervo. A diretora do Videobrasil mencionou que "a perspectiva política sempre existiu para o Videobrasil", caracterizada, inicialmente, pelo próprio meio – nos anos 1980, o vídeo era um suporte novo e desafiador. "Acho que na gênese do vídeo há um DNA político – o vídeo comenta o aqui e o agora", completa Solange, destacando que cerca de 98% dos artistas selecionados para o Festival concordam em doar suas obras para a Associação, não só pela garantia da preservação das obras neste suporte, algo extremamente delicado por conta dos avanços tecnológicos e mudanças nas mídias, mas como pelo esforço continuo de difusão dos seus trabalhos.
A Associação Cultural Videobrasil constantemente convida pesquisadores, críticos e curadores para se debruçar sobre o seu acervo. Para tanto, criou ferramentas online como a PLATAFORMA: VB, ambiente colaborativo de pesquisa sobre as obras da coleção, e os FF>>Dossiers, série de curadorias online composta por 52 publicações sobre artistas com obras na coleção do Videobrasil.
Acervo
Entre 1983 e 1990 o Festival Videobrasil aconteceu no Museu da Imagem e do Som (MIS), com patrocínio da Fotoptica. A partir de 1992, com a realização do 9º Festival, ele se internacionalizou e passou a ser realizado em unidades do Sesc em parceria com o Sesc São Paulo. O acervo reúne as obras das mostras realizadas deste período aos dias de hoje, com a concordância dos artistas selecionados (98% deles cederam seus trabalhos para compor a coleção). No ano passado, a 18º edição comemorou os 30 anos de Festival, com um esforço grande de digitalização, recuperação e aquisição de obras. Dos trabalhos apresentados na época do MIS, que eram cópias em VHS, cerca de 80% foram recuperadas diretamente com os artistas.
Embora incorpore clássicos da videoarte internacional, a grande força desta coleção é reunir a memória da produção audiovisual do Sul global, foco da mostra Panoramas do Sul do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, formado por países da América Latina, África, Oriente Médio, Leste Europeu, Sul e Sudeste Asiático e Oceania.
Por conta da participação recorrente de alguns artistas no Festival, o Acervo possui pequenas coleções de autores, como do libanês Akram Zaatari. A coleção também é composta por inúmeras obras de Lenora de Barros, Cao Guimarães, Carlos Nader, Kiko Goiffman, Lucas Bambozzi, Shawn Gladwell, Gregg Smith, Bouchra Khalili, Gillermo Cifuentes e Fernando Meirelles.
Recentemente, foram adquiridos alguns trabalhos históricos da videoarte internacional, de artistas como Nam June Paik, Bruce Nauman, Gary Hill, Vito Acconci, Bill Viola, Dan Graham, Joan Jonas, John Baldessari e Paul McCarthy. Ainda que essas obras tenham sido exibidas no Festival, elas não faziam parte do Acervo. A coleção do Videobrasil é formada ainda por doações, como as obras de Rafael França (1957-1991) e Marina Abs (1962-2002).
Livro Memórias Inapagáveis – um olhar histórico no acervo videobrasil
O livro, uma coedição da Associação Cultural Videobrasil e Edições Sesc São Paulo, tem organização de Agustín Pérez Rubio, curador da exposição Memórias Inapagáveis – um olhar histórico no acervo videobrasil e atual diretor artístico do Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba). Agustín convidou autores (entre críticos de arte, antropólogos, linguistas e pesquisadores das áreas de cinema e semiótica) de nove países a escrever ensaios em torno da mostra e dos trabalhos de 18 artistas de diferentes nacionalidades que abordam episódios de conflito históricos. Com coordenação editorial de Teté Martinho e projeto gráfico de Celso Longo + Daniel Trench, o livro compila imagens das obras exibidas, bem como vistas da exposição no Sesc Pompeia, e tem seu conteúdo apresentado em português e em inglês.
A partir do lançamento, a publicação estará disponível para venda nas unidades Sesc SP (capital e interior), nas principais livrarias e também pelo portal www.sescsp.org.br/livraria
Memórias inapagáveis: um olhar histórico no Acervo Videobrasil
Organização de Agustín Pérez Rubio
Associação Cultural Videobrasil; Serviço Social do Comércio em São Paulo
São Paulo : Edições Sesc São Paulo : Videobrasil, 2014
320 páginas, bilíngue (português/inglês)
POSTADO POR EDUARDO CRUZ ÀS 10/24/2014 11:23:00 AM0 COMENTÁRIOS
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