Estudo publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apresenta os principais resultados de mapeamento realizado pela Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) junto a empreendimentos de economia solidária em todo o Brasil, de 2009 e 2013. O estudo utiliza a definição de Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) como empreendimentos coletivos(organizações suprafamiliares, singulares e complexas, tais como associações, cooperativas, empresas autogestionárias, grupos de produção, clubes de troca, redes etc.), permanentes (que disponham ou não de registro legal) e que realizem atividades econômicas de produção de bens ou serviços, fundos de crédito (cooperativas de crédito e os fundos rotativos populares), comercialização e consumo solidário.
Ao todo, o mapeamento do Sies identificou 19.708 empreendimentos organizados e distribuídos entre 2.713 municípios brasileiros, entre 2009 e 2013. A maior parte deles (40,8%) se encontra no Nordeste, cerca de dois terços desse total foram constituídos a partir do início da década de 2000 e mais da metade se encontra em áreas rurais (54,8%), contra 34,8% de EES urbanos e 10,4% que se identificaram tanto rurais quanto urbanos. Segundo o estudo, 52,6% dos EES são formados por agricultores familiares/assentados de reforma agrária. Os EES envolvem 1.423.631 associados, sendo 803.373 do sexo masculino (56,4% do total) e 620.258 do sexo feminino (43,6%). Em média são 73 associados(as) por EES, mas a maioria dos EES são compostos por menos de 20 sócios(as), 41,7%, e outros 32,6% possuem entre 21 e 50 sócios(as).
Quanto ao alcance de mercados, os dados mostram que a atividade comercial dos EES está restrita basicamente ao âmbito local: 86% dos EES afirmaram que comercializam seus produtos diretamente com os consumidores finais, e outros 39% negociam com revendedores ou atacadistas. É importante notar que o comércio direto com órgãos governamentais envolve 15% dos EES, em sua maioria empreendimentos de agricultores familiares que comercializam via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Por volta de 60% dos EES declararam não estarem articulados ou participarem de órgãos de representação política e movimentos sociais. Mesmo assim, um percentual de 40% envolvidos é significativo. Também, 62,9% dos EES afirmaram que tiveram acesso a algum tipo de assessoria ou qualificação técnica no ano anterior à pesquisa, e 37,1% não tiveram acesso algum.
Em relação a estudos anteriores, este mostra que os EES continuam com os mesmos problemas estruturais, como dificuldade de formalização, capacidade de comercialização de produtos e serviços, acesso a crédito e financiamentos. O banco de dados apresentado pelo estudo é um importante material de pesquisa sobre a economia solidária no país e pode subsidiar novas ações e políticas públicas. É importante também fortalecer as instâncias participativas para que os próprios atores possam influir na construção de políticas efetivas para suas atividades.
Análise: Ana Luíza Matos de Oliveira, economista
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