Terça-feira, 2 de Dezembro de 2014

Texto importante de Leonardo Boff

 

 

Leonardo Boff: Presidenta Dilma iniciou o diálogo aberto

Uma das principais propostas da recém reeleita Presidenta do país, Dilma Rousseff, começou a se realizar: dialogar aberta e construtivamente com a sociedade e com os diferentes segmentos sociais. Foi assim que no dia 26 de novembro, por quase duas horas, dialogou com representantes do Grupo Emaus, nomeadamente, Frei Betto, Luiz Carlos Susin, Rosileny Schwantes, Maria Helena Arrochellas, Marcia Miranda e Leonardo Boff.


Este grupo, composto por cerca de 40 pessoas que já existe há 40 anos nasceu como resistência à ditadura militar, reunindo intelectuais e religiosos de várias partes do pais para analisarem a conjuntura política e eclesial e traçarem ações concretas junto às bases para acelerar o resgate da democracia, manietada pelo regime ditatorial. O sonho nosso era e é grande: o de gestar um país  que inclua no seu orçamento aqueles que há quinhentos anos estavam à margem.  Entre os presentes havia presos políticos e torturados e praticamente todos vigiados. Mas enfrentamos os riscos e as ameças por uma causa maior que implica um país justo e solidário.

O encontro seu de nesta comunhão de espírito: o coração valente da Presidenta que suportou pesadas torturas sem nunca entregar ninguém e nós, de nosso jeito, expusemo-nos pela mesma causa, naquele tempo e agora. Ela logo entendeu o significado de nossa presença, solicitada por nós. Não íamos pedir nada, apenas reforçar sua determinação de seguir na construção do projeto originário do PT, o de criar uma sociedade com menos perversidade e que desse centralidade aos mais pobres e invisíveis, não obstante os constrangimentos da macroeonomia dominante.

Entregamos-lhe um documento  - O Brasil que queremos – com 16 pontos que podem ser lidos no meu blog (leonardoboff.wordpress.com) onde ressaltam: a reforma do sistema político, tornar o modelo econômico mais social e popular, a promoção da reforma agrária e urbana, a defesa dos direitos dos povos indígenas e quilombolas entre outros.

A conversa transcorreu de forma extremamente franca e jovial, reconhecendo acertos e equívocos. Ressaltamos especialmente a necessidade de a Presidenta  retomar o diálogo com a sociedade, principalmente com os movimentos sociais organizados. Imediatamente foi marcada na próxima semana um encontro com a Coordenação dos Movimentos Sociais e outra com a Coordenação Nacional do Movimento dos Sem Terra.(MST). Todos insistimos em retomar a educação política das bases, dentro da pedagogia de Paulo Freire, em especial dos jovens. Não adianta mostrar apenas obras. Há que se mostrar que elas obedecem a um projeto político do Governo em benefício dos mais necessitados como Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos e outras iniciativas.  Este vínculo de causalidade torna consciente a população e reforça o projeto popular, que precisa ser fortalecido para superar a nossa abissal desigualdade social.

Salientamos a importância de reforçar e ampliar iniciativas de cunho social e ambiental como o projeto “Cultivando Água Boa” implementado pela hidrelétrica de Itaipu, envolvendo um milhão de pessoas que incorporou, mediante uma sistemática educação ecológica (formaram-se mais de 1600 educadores ambientais), recuperando rios, introduzindo a agricultura orgânica, integrando povos indígenas e quilombolas e outros tantos benefícios, melhorando a vida das populações e da comunidade de vida. A Presidenta se mostrou entusiasmada pelo projeto que já tem mais de 11 anos  e pelas pessoas que o levam avante, com custos mínimos e em parceria com os 29 municípios lindeiros e de sua eventual implantação em outras hidrelétricas.

Ponto importante foi a educação política dos jovens para que não sejam meros consumidores mas cidadãos críticos e participantes. É um desafio para os grupos das Igrejas que se inserem nos meios populares e ao próprio PT que deve retomar uma ligação orgânica e dialogar e aprender com eles.

A Presidente se mostrou especialmente sensível à questão dos direitos humanos e aos Centros de Referência dos Direitos Humanos, na perspectiva de fortalecer iniciativas comprovadamente sérias que estão acontecendo em todo o nosso país.

A questão ecológica foi considerada tão importante e complexa que merecerá um outro encontro específico.

Nada pedimos. Não nos moveram interesses corporativos ou pessoais. Apenas oferecemos nossos préstimos, caso sejam solicitados pela Presidenta. Ela se mostrou comovida e aberta a outros encontros mais sistemáticos, pois se deu conta de nossa vontade de colaboração na construção de uma sociedade mais humana, mais justa e cooperativa, onde seja menos difícil a vontade de transformação social e o amor humano entre todos.
(*) Leonardo Boff, ecoteólogo e escritor

 
publicado por o editor às 00:04
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Sexta-feira, 15 de Agosto de 2014

Nota de Repúdio às reportagens da série “Terra Contestada” do Grupo RBS

 

 
Os membros do Simpósio Temático nº 13: “Indigenismo e Movimentos Sociais Indígenas” proposto no XV Encontro Estadual de História: “1964-2014 – Memórias, testemunhos e estado” realizado entre 11 e 14 de Agosto de 2014, Seção Santa Catarina (ANPUH-SC), vem a público divulgar Nota de Repúdio à Empresa Rede Brasil Sul de Comunicação (Grupo RBS) devido à reportagem “especial” veiculada em seus meios, sobretudo  no  Jornal Diário Catarinense, intitulada: Terra Contestada, nos dias 07, 08, 09, 10, 11 e 12 de Agosto de 2014.
É importante salientar que não se pretende com esta nota, repetir o conteúdo vexatório, discriminatório, racista, tendencioso, “parcial” e contraditório das reportagens veiculadas, pois estaríamos corroborando com ideias e pensamentos que marginalizam os povos indígenas ao longo da História deste país. Estes povos vêm sendo paulatinamente execrados e deixados à margem de uma sociedade que se diz plural, diversa, pluriétnica e culturalmente rica quando se trata de divulgar e identificar a imagem da região a qual pertence este estado de Santa Catarina.
Inicialmente, convém questionar e depois esclarecer a tão propalada imagem desta empresa, que tenta promover um jornalismo pautado na imparcialidade. Caso não seja de clareza de seus dirigentes e funcionários, as reportagens apresentam conteúdo conivente e subserviente ao sistema político e econômico dos setores administrativos dos governos, quer em esfera estadual ou federal.
 No que se refere à “imparcialidade” do caso em questão, foram ouvidas pessoas de duas entidades, uma governamental e outra não governamental, que segundo a própria reportagem, fazem o mesmo trabalho. Então, ao apresentar informações que denotam juízo de valor, verifica-se uma postura parcial, a qual confunde o leitor desavisado e leigo sobre o assunto. Os sujeitos envolvidos e atacados pela reportagem, sequer foram ouvidos, lideranças (cacique, professores, anciões), famílias Guarani que residem na comunidade Itaty do Morro dos Cavalos. A reportagem veiculou a entrevista de apenas um Guarani, que há algum tempo já não reside mais na Comunidade Itaty. Isso é parcialidade. A parcialidade está visível também em relação aos estudos, laudos e pareceres técnicos, pois são consideradas pela reportagem apenas informações fragilmente embasadas por um antropólogo já desligado formalmente da Associação Brasileira de Antropologia – ABA.
Poderíamos ainda elencar uma série de procedimentos equivocados no caso dessa série de reportagens e de outras que já foram veiculadas pela mesma empresa de jornalismo e comunicação. Na coluna política do Diário Catarinense, é recorrente a postura de contradizer e execrar os indígenas da comunidade Itaty (Morro dos Cavalos), inclusive, impingindo aos Guarani,  a culpa pelas mortes ocorridas na BR 101.
Além dos antropólogos, do CTI, da FUNAI, existem muitos pesquisadores realizando estudos com os indígenas, sobretudo com o povo Guarani, nas mais diferentes áreas do conhecimento: História, Biologia, Gestão Ambiental, Engenharia, Ciências da Saúde e outras.  Convém salientar os estudos realizados por estudantes indígenas Guarani, moradores da própria aldeia Morro dos Cavalos, acadêmicos da Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, na UFSC. Com isso, ressaltamos que os indígenas são agentes protagonistas de suas próprias histórias e suas opiniões e percepções devem ser consideradas em um Estado que se diz exemplo de multiculturalidade. 
Em se tratando de verbas, trazemos à memória, os vários momentos em que foram dispensados recursos para a finalização das obras da BR101. Nestes últimos 15 anos foram pelo menos três vezes em que foram anunciados recursos que possibilitariam a finalização da obra. Onde foram parar estes recursos?
Não se pode conceber e calar-se sobre reportagens como estas, que são racistas, preconceituosas e incitadoras de violências, em um tempo em que o racismo tornou-se crime, o preconceito é próprio dos ignorantes e toda forma de violência contribui para a falta de diálogo e a intolerância nos contextos social, cultural e econômico.
Assinam:
Membros participantes do Simpósio Temático nº 13: “Indigenismo e Movimentos Sociais Indígenas” no XV Encontro Estadual de História: “1964-2014 – Memórias, testemunhos e estado” realizado entre 11 e 14 de Agosto de 2014.
Florianópolis, 13 de Agosto de 2014

 

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Terça-feira, 5 de Agosto de 2014

ERA UMA VEZ OS PALESTINOS Gilberto Nogueira de Oliveira

 

ERA UMA VEZ OS PALESTINOS
Gilberto Nogueira de Oliveira
Da faixa negra de tanta fumaça
Da faixa vermelha de tanto sangue
Um choro surdo que nem Deus dá ouvidos
Grita aos inúmeros cantos do mundo
Salvem os palestinos.
Choro ao ver tantos pedaços de carne
De crianças que ainda não viveram.
É um covil de degradações humanas.
Eu vi, eu senti.
Um vasto campo de crianças famintas
Um campo de desgraças tantas
De sionistas sanguinários
Especialistas em infanticídio. 
O câncer do mundo moderno
Cometendo velhos crimes;
Mulheres e crianças palestinas 
Reduzidas a pedaços, apenas.
Eu vi, eu senti.
Eu vi um monstro sionista
Armado pelos Estados Unidos
A sorri com frieza 
Ao olhar crianças e mulheres
Com cabeças arrebentadas 
Seus cérebros expostos.
Espalhados pelos escombros.
Foi apenas o que restou.
Eu vi, eu senti.
A ordem é exterminar os palestinos
Para ocupar seu território
E aumentar o braço armado
Num país já desgraçado
Com crianças explodidas,
Crianças com cabeças ocas,
Seus cérebros espalhados pelo chão
E disputados pelos abutres.
Eu vi, eu senti
Que pensam de mim?
Que estou destilando meu ódio
À podridão dos sionistas
Com sua bandeira de Davi
Enrolada em seu corpo protegido
E ensanguentado pelos restos de seus crimes.
Tétrica visão, apenas,
Do seu capitalismo selvagem.
Eu vi, eu senti
Crianças mortas em série 
Como se fossem códigos de barras
Seus pais com os corações dilacerados
E feridos por balas assassinas.
Num mundo infernal e bíblico
Eu assisti ao verdadeiro holocausto
Diante da estrela de Davi.

 

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Quarta-feira, 23 de Abril de 2014

Gabriel Garcia Marques

 

 

  

 

1967 latinoamericano: o Gabo e o Che

A notícia mais importante da sua vida não foi a dolorosa notícia de ontem, nem tampouco o Premio Nobel de 1982, mas o lançamento de Cem Anos de Solidão, em 1967

por Emir Sader


O Gabo sempre gostava de reiterar que, como jornalista – profissão que ele sempre reivindicou como a sua – a maior frustração que ele teria seria não poder dar a notícia mais importante da sua vida. Mas a verdade é que a notícia mais importante da sua vida não foi a dolorosa notícia de ontem, nem tampouco o glorioso Premio Nobel de 1982, mas o lançamento de Cem Anos de Solidão, em 1967.

O século XX foi o primeiro século em que a América Latina teve um protagonismo mundial. Iniciado, politicamente, com o massacre dos mineiros na Escola de Santa Maria de Iquique, em 1907 e, 3 anos mais tarde, com a Revolução Mexicana, se anunciava que seria um século de revoluções e contrarrevoluções no continente. O marco definitivo dessa trajetória viria com a Revolução Cubana de 1959.

Mas 1967 foi um ano simbolicamente determinante para a história latino-americana e para sua projeção mundial. É o ano da publicação da obra mais importante da nossa literatura,
Cem Anos de Solidão, mas também porque é o ano da morte do Che.

Uma, a maior obra prima da literatura latino-americana, outro, o personagem cujo gesto o levou a ser a imagem mais reproduzida no mundo.

Não há ninguém que tenha lido
Cem Anos de Solidão e que não se lembre das circunstâncias – onde, quando, com quem, em que edição – leu pela primeira vez o livro. Como não há ninguém que tenha vivido naquele não tão longínquo 1967, que não se lembre quando, onde, com quem, soube da noticia dolorosamente certa da morte do Che.

O discurso do Gabo ao receber o Nobel de Literatura é a mais notável reivindicação da América Latina. Ali, ele afirma que, da mesma forma se reconhece ao nosso continente sua criatividade, sua originalidade e sua criatividade nas artes, se deve deixar de tentar impor-nos  projetos políticos desde fora, deixando-nos exercer, da mesma maneira, nos caminhos da nossa história, essa criatividade, essa genialidade e essa originalidade, que nos reconhecem no campo das artes.



A íntegra do discurso


Segue abaixo a íntegra desse discurso, em espanhol, para homenagear Gabo e a lingua que trabalhou durante toda sua vida:


"Antonio Pigafetta, un navegante florentino que acompañó a Magallanes en el primer viaje alrededor del mundo, escribió a su paso por nuestra América meridional una crónica rigurosa que sin embargo parece una aventura de la imaginación. Contó que había visto cerdos con el ombligo en el lomo, y unos pájaros sin patas cuyas hembras empollaban en las espaldas del macho, y otros como alcatraces sin lengua cuyos picos parecían una cuchara. Contó que había visto un engendro animal con cabeza y orejas de mula, cuerpo de camello, patas de ciervo y relincho de caballo. Contó que al primer nativo que encontraron en la Patagonia le pusieron enfrente un espejo, y que aquel gigante enardecido perdió el uso de la razón por el pavor de su propia imagen.
Este libro breve y fascinante, en el cual ya se vislumbran los gérmenes de nuestras novelas de hoy, no es ni mucho menos el testimonio más asombroso de nuestra realidad de aquellos tiempos. Los cronistas de Indias nos legaron otros incontables. Eldorado, nuestro país ilusorio tan codiciado, figuró en mapas numerosos durante largos años, cambiando de lugar y de forma según la fantasía de los cartógrafos. En busca de la fuente de la Eterna Juventud, el mítico Alvar Núñez Cabeza de Vaca exploró durante ocho años el norte de México, en una expedición venática cuyos miembros se comieron unos a otros y sólo llegaron cinco de los 600 que la emprendieron. Uno de los tantos misterios que nunca fueron descifrados, es el de las once mil mulas cargadas con cien libras de oro cada una, que un día salieron del Cuzco para pagar el rescate de Atahualpa y nunca llegaron a su destino. Más tarde, durante la colonia, se vendían en Cartagena de Indias unas gallinas criadas en tierras de aluvión, en cuyas mollejas se encontraban piedrecitas de oro. Este delirio áureo de nuestros fundadores nos persiguió hasta hace poco tiempo. Apenas en el siglo pasado la misión alemana de estudiar la construcción de un ferrocarril interoceánico en el istmo de Panamá, concluyó que el proyecto era viable con la condición de que los rieles no se hicieran de hierro, que era un metal escaso en la región, sino que se hicieran de oro.
La independencia del dominio español no nos puso a salvo de la demencia. El general Antonio López de Santana, que fue tres veces dictador de México, hizo enterrar con funerales magníficos la pierna derecha que había perdido en la llamada Guerra de los Pasteles. El general García Moreno gobernó al Ecuador durante 16 años como un monarca absoluto, y su cadáver fue velado con su uniforme de gala y su coraza de condecoraciones sentado en la silla presidencial. El general Maximiliano Hernández Martínez, el déspota teósofo de El Salvador que hizo exterminar en una matanza bárbara a 30 mil campesinos, había inventado un péndulo para averiguar si los alimentos estaban envenenados, e hizo cubrir con papel rojo el alumbrado público para combatir una epidemia de escarlatina. El monumento al general Francisco Morazán, erigido en la plaza mayor de Tegucigalpa, es en realidad una estatua del mariscal Ney comprada en París en un depósito de esculturas usadas.
Hace once años, uno de los poetas insignes de nuestro tiempo, el chileno Pablo Neruda, iluminó este ámbito con su palabra. En las buenas conciencias de Europa, y a veces también en las malas, han irrumpido desde entonces con más ímpetus que nunca las noticias fantasmales de la América Latina, esa patria inmensa de hombres alucinados y mujeres históricas, cuya terquedad sin fin se confunde con la leyenda. No hemos tenido un instante de sosiego. Un presidente prometeico atrincherado en su palacio en llamas murió peleando solo contra todo un ejército, y dos desastres aéreos sospechosos y nunca esclarecidos segaron la vida de otro de corazón generoso, y la de un militar demócrata que había restaurado la dignidad de su pueblo.


En este lapso ha habido 5 guerras y 17 golpes de estado, y surgió un dictador luciferino que en el nombre de Dios lleva a cabo el primer etnocidio de América Latina en nuestro tiempo. Mientras tanto 20 millones de niños latinoamericanos morían antes de cumplir dos años, que son más de cuantos han nacido en Europa occidental desde 1970. Los desaparecidos por motivos de la represión son casi los 120 mil, que es como si hoy no se supiera dónde están todos los habitantes de la ciudad de Upsala. Numerosas mujeres arrestadas encintas dieron a luz en cárceles argentinas, pero aún se ignora el paradero y la identidad de sus hijos, que fueron dados en adopción clandestina o internados en orfanatos por las autoridades militares. Por no querer que las cosas siguieran así han muerto cerca de 200 mil mujeres y hombres en todo el continente, y más de 100 mil perecieron en tres pequeños y voluntariosos países de la América Central, Nicaragua, El Salvador y Guatemala. Si esto fuera en los Estados Unidos, la cifra proporcional sería de un millón 600 mil muertes violentas en cuatro años.
De Chile, país de tradiciones hospitalarias, ha huido un millón de personas: el 10 por ciento de su población. El Uruguay, una nación minúscula de dos y medio millones de habitantes que se consideraba como el país más civilizado del continente, ha perdido en el destierro a uno de cada cinco ciudadanos. La guerra civil en El Salvador ha causado desde 1979 casi un refugiado cada 20 minutos. El país que se pudiera hacer con todos los exiliados y emigrados forzosos de América Latina, tendría una población más numerosa que Noruega.
Me atrevo a pensar que es esta realidad descomunal, y no sólo su expresión literaria, la que este año ha merecido la atención de la Academia Sueca de las Letras. Una realidad que no es la del papel, sino que vive con nosotros y determina cada instante de nuestras incontables muertes cotidianas, y que sustenta un manantial de creación insaciable, pleno de desdicha y de belleza, del cual éste colombiano errante y nostálgico no es más que una cifra más señalada por la suerte. Poetas y mendigos, músicos y profetas, guerreros y malandrines, todas las criaturas de aquella realidad desaforada hemos tenido que pedirle muy poco a la imaginación, porque el desafío mayor para nosotros ha sido la insuficiencia de los recursos convencionales para hacer creíble nuestra vida. Este es, amigos, el nudo de nuestra soledad.
Pues si estas dificultades nos entorpecen a nosotros, que somos de su esencia, no es difícil entender que los talentos racionales de este lado del mundo, extasiados en la contemplación de sus propias culturas, se hayan quedado sin un método válido para interpretarnos. Es comprensible que insistan en medirnos con la misma vara con que se miden a sí mismos, sin recordar que los estragos de la vida no son iguales para todos, y que la búsqueda de la identidad propia es tan ardua y sangrienta para nosotros como lo fue para ellos. La interpretación de nuestra realidad con esquemas ajenos sólo contribuye a hacernos cada vez más desconocidos, cada vez menos libres, cada vez más solitarios. Tal vez la Europa venerable sería más comprensiva si tratara de vernos en su propio pasado.


Si recordara que Londres necesitó 300 años para construir su primera muralla y otros 300 para tener un obispo, que Roma se debatió en las tinieblas de incertidumbre durante 20 siglos antes de que un rey etrusco la implantara en la historia, y que aún en el siglo XVI los pacíficos suizos de hoy, que nos deleitan con sus quesos mansos y sus relojes impávidos, ensangrentaron a Europa con soldados de fortuna. Aún en el apogeo del Renacimiento, 12 mil lansquenetes a sueldo de los ejércitos imperiales saquearon y devastaron a Roma, y pasaron a cuchillo a ocho mil de sus habitantes.
No pretendo encarnar las ilusiones de Tonio Kröger, cuyos sueños de unión entre un norte casto y un sur apasionado exaltaba Thomas Mann hace 53 años en este lugar. Pero creo que los europeos de espíritu clarificador, los que luchan también aquí por una patria grande más humana y más justa, podrían ayudarnos mejor si revisaran a fondo su manera de vernos. La solidaridad con nuestros sueños no nos haría sentir menos solos, mientras no se concrete con actos de respaldo legítimo a los pueblos que asuman la ilusión de tener una vida propia en el reparto del mundo.
América Latina no quiere ni tiene por qué ser un alfil sin albedrío, ni tiene nada de quimérico que sus designios de independencia y originalidad se conviertan en una aspiración occidental.
No obstante, los progresos de la navegación que han reducido tantas distancias entre nuestras Américas y Europa, parecen haber aumentado en cambio nuestra distancia cultural. ¿Por qué la originalidad que se nos admite sin reservas en la literatura se nos niega con toda clase de suspicacias en nuestras tentativas tan difíciles de cambio social? ¿Por qué pensar que la justicia social que los europeos de avanzada tratan de imponer en sus países no puede ser también un objetivo latinoamericano con métodos distintos en condiciones diferentes? No: la violencia y el dolor desmesurados de nuestra historia son el resultado de injusticias seculares y amarguras sin cuento, y no una confabulación urdida a 3 mil leguas de nuestra casa. Pero muchos dirigentes y pensadores europeos lo han creído, con el infantilismo de los abuelos que olvidaron las locuras fructíferas de su juventud, como si no fuera posible otro destino que vivir a merced de los dos grandes dueños del mundo. Este es, amigos, el tamaño de nuestra soledad.
Sin embargo, frente a la opresión, el saqueo y el abandono, nuestra respuesta es la vida. Ni los diluvios ni las pestes, ni las hambrunas ni los cataclismos, ni siquiera las guerras eternas a través de los siglos y los siglos han conseguido reducir la ventaja tenaz de la vida sobre la muerte. Una ventaja que aumenta y se acelera: cada año hay 74 millones más de nacimientos que de defunciones, una cantidad de vivos nuevos como para aumentar siete veces cada año la población de Nueva York. La mayoría de ellos nacen en los países con menos recursos, y entre éstos, por supuesto, los de América Latina. En cambio, los países más prósperos han logrado acumular suficiente poder de destrucción como para aniquilar cien veces no sólo a todos los seres humanos que han existido hasta hoy, sino la totalidad de los seres vivos que han pasado por este planeta de infortunios.
Un día como el de hoy, mi maestro William Faulkner dijo en este lugar: «Me niego a admitir el fin del hombre». No me sentiría digno de ocupar este sitio que fue suyo si no tuviera la conciencia plena de que por primera vez desde los orígenes de la humanidad, el desastre colosal que él se negaba a admitir hace 32 años es ahora nada más que una simple posibilidad científica. Ante esta realidad sobrecogedora que a través de todo el tiempo humano debió de parecer una utopía, los inventores de fábulas que todo lo creemos, nos sentimos con el derecho de creer que todavía no es demasiado tarde para emprender la creación de la utopía contraria. Una nueva y arrasadora utopía de la vida, donde nadie pueda decidir por otros hasta la forma de morir, donde de veras sea cierto el amor y sea posible la felicidad, y donde las estirpes condenadas a cien años de soledad tengan por fin y para siempre una segunda oportunidad sobre la tierra.
Agradezco a la Academia de Letras de Suecia el que me haya distinguido con un premio que me coloca junto a muchos de quienes orientaron y enriquecieron mis años de lector y de cotidiano celebrante de ese delirio sin apelación que es el oficio de escribir. Sus nombres y sus obras se me presentan hoy como sombras tutelares, pero también como el compromiso, a menudo agobiante, que se adquiere con este honor. Un duro honor que en ellos me pareció de simple justicia, pero que en mí entiendo como una más de esas lecciones con las que suele sorprendernos el destino, y que hacen más evidente nuestra condición de juguetes de un azar indescifrable, cuya única y desoladora recompensa, suelen ser, la mayoría de las veces, la incomprensión y el olvido.
Es por ello apenas natural que me interrogara, allá en ese trasfondo secreto en donde solemos trasegar con las verdades más esenciales que conforman nuestra identidad, cuál ha sido el sustento constante de mi obra, qué pudo haber llamado la atención de una manera tan comprometedora a este tribunal de árbitros tan severos. Confieso sin falsas modestias que no me ha sido fácil encontrar la razón, pero quiero creer que ha sido la misma que yo hubiera deseado. Quiero creer, amigos, que este es, una vez más, un homenaje que se rinde a la poesía. A la poesía por cuya virtud el inventario abrumador de las naves que numeró en su Iliada el viejo Homero está visitado por un viento que las empuja a navegar con su presteza intemporal y alucinada. La poesía que sostiene, en el delgado andamiaje de los tercetos del Dante, toda la fábrica densa y colosal de la Edad Media. La poesía que con tan milagrosa totalidad rescata a nuestra América en las Alturas de Machu Pichu de Pablo Neruda el grande, el más grande, y donde destilan su tristeza milenaria nuestros mejores sueños sin salida. La poesía, en fin, esa energía secreta de la vida cotidiana, que cuece los garbanzos en la cocina, y contagia el amor y repite las imágenes en los espejos.
En cada línea que escribo trato siempre, con mayor o menor fortuna, de invocar los espíritus esquivos de la poesía, y trato de dejar en cada palabra el testimonio de mi devoción por sus virtudes de adivinación, y por su permanente victoria contra los sordos poderes de la muerte. El premio que acabo de recibir lo entiendo, con toda humildad, como la consoladora revelación de que mi intento no ha sido en vano. Es por eso que invito a todos ustedes a brindar por lo que un gran poeta de nuestras Américas, Luis Cardoza y Aragón, ha definido como la única prueba concreta de la existencia del hombre: la poesía.
Muchas gracias.

 

publicado por o editor às 22:28
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Terça-feira, 5 de Novembro de 2013

1º Encontro Catarinense de Escritores, da Associação Confraria das Letras de Joinville

 

A LITERATURA CATARINENSE TERÁ UM DIA ESPECIAL EM JOINVILLE


No dia 09 de novembro Joinville vai se tornar a capital da literatura no Estado. O 1º Encontro Catarinense de Escritores, organizado pela Associação Confraria das Letras, vai reunir 10 autores com destacada atuação nas áreas de literatura, pesquisa e cultura. As cidades de Blumenau, Florianópolis, Itajaí, Jaraguá do Sul e São Francisco do Sul, além de Joinville, estarão representadas no evento através dos convidados especiais. Participantes de outros municípios já confirmaram inscrição.

A programação principal abre com um ciclo de palestras com a presença do poeta e crítico literário Gilberto Mendonça Teles, nome de referência em estudos sobre o modernismo e a vanguarda na poesia brasileira. Vindo do Rio de Janeiro, Teles vai ministrar o tema “O (Des)Limite da Poesia”. As palestras “Desafio Institucional da Literatura em Santa Catarina”, da presidente do Conselho Estadual de Cultura, Mery Garcia, e “Rumos Novos da Literatura Infantojuvenil”, da professora e pesquisadora Sueli De Souza Cagneti, completam a primeira parte do evento.

Durante a tarde, o painel “Panorama da Literatura Catarinense – Oportunidades e Desafios” promove um debate com os escritores Alcides Buss, Carlos Adauto Vieira, Joel Gehlen, Jura Arruda e Urda Alice Klueger, além do ator Leone Silva, presidente da Fundação Cultural de Jaraguá do Sul, sob mediação do cronista Donald Malschitzky. A programação se encerra com o lançamento da 4ª edição da coletânea “Letras da Confraria”, publicação que reúne periodicamente textos dos membros da Associação Confraria das Letras.

De acordo com o escritor David Gonçalves, presidente da associação, a expectativa é de reunir mais de cem participantes nesta primeira edição do encontro, que já nasce com a proposta de se tornar um evento fixo no calendário cultural da cidade. “Queremos tornar o evento uma referência para Joinville e para o Estado”, frisou, destacando que há cerca de 15 anos não se realiza um encontro deste tipo em Santa Catarina. 
 
"Há tempo não se realiza um encontro desta natureza", afirma David Gonçalves. "O ato de escrever é por natureza muito solitário e isso acaba deixando o escritor numa espécie de gueto literário. A ideia é reunir essa gente enormemente criativa e dar vaza à criatividade, acendendo o fogo no panelão da criatividade. Quem ganha com isso? A Literatura Catarinense. existem academias aqui, acolá, mas quase todas regionalizadas, com olhar para o próprio umbigo. Queremos quebrar essas barreiras!"

O 1º Encontro Catarinense de Escritores acontece no Auditório Alfredo Salfer, no Centreventos Cau Hansen, se estendendo das 9 às 18h. O encontro tem apoio da Biblioteca Pública Municipal Rolf Colin, da Fundação Cultural de Joinville e da Confraria do Escritor. As inscrições estão abertas e podem ser antecipadas pelos telefones (47) 3427-5366 ou (47) 9119-3832, ou ainda no dia, no local do evento, ao custo de R$ 20 por participante. A participação apenas no lançamento da coletânea "Letras da Confraria" é gratuita. 

SERVIÇO
1º Encontro Catarinense de Escritores
Da Associação Confraria das Letras de Joinville

Data: 09-11-2013
Local: Auditório Alfredo Salfer
Centreventos Cau Hansen – Av. José Vieira, 315 - Centro
Inscrições: (47)3427-5366 / (47) 9119-3832 – com Sílvio Vieira
E-mail: contato@silviovieiravivencial.com.br

Informações: David Gonçalves – (47) 3425-1925 / (47) 9974-7080
E-mail: david.goncalves@uol.com.br

Programação:
9h45 – Inscrições – R$ 20 (por participante)
10h – Abertura do Encontro
10h15 – “O (Des)Limite da Poesia” – Gilberto Mendonça Teles
12h – Almoço
14h – “Desafio Institucional da Literatura em Santa Catarina” – Mery Garcia
14h30 – “Rumos Novos da Literatura Infantojuvenil” – Sueli De Souza Cagneti
15h – Intervalo
15h15 – Painel “Panorama da Literatura Catarinense – Oportunidades e Desafios”, com os escritores Alcides Buss, Carlos Adauto Vieira, Joel Gehlen, Jura Arruda, Leone Silva, Urda Alice Klueger e Donald Malschitzky (mediador)
17h15 – “Agentes de Leitura” – Fundação Cultural de Joinville
17h30 – Lançamento da 4ª antologia “Letras da Confraria”
18h – Encerramento


PALESTRANTES E PAINELISTAS

Gilberto Mendonça Teles
Poeta, ensaísta e conferencista, foi professor titular de Literatura Brasileira na PUC-Rio por mais de 30 anos e em diversas universidades estrangeiras, no Uruguai, Portugal, França, Estados Unidos e Espanha. Com mais de 30 livros publicados, sua poesia e seus ensaios críticos são hoje de leitura obrigatória nas universidades. Entre eles, se sobressaem “Pássaro de pedra”, “A raiz da fala”, “Álibi”, “Plural de nuvens”, “Drummond: a estilística da repetição”, “Vanguarda europeia e modernismo brasileiro”, “Camões e a poesia brasileira” e “Retórica do silêncio”. Natural de Bela Vista de Goiás, reside no Rio de Janeiro-RJ.

Mery Garcia
Presidente do Conselho Estadual de Cultura e responsável pela elaboração do Plano Estadual do Livro, Leitura e Literatura, no âmbito do governo estadual.

Sueli de Souza Cagneti
Titular na Universidade da Região de Joinville, é mestre em Literatura pela UFSC e doutora em Letras e Literatura Portuguesa pela USP, com pós-doutorado pela Università per Stranieri di Perugia, na Itália. Coordena e escreve a coleção “Livro dos livros: resenhas do Prolij”. Autora de “Livro que te quero livre” (Werner Zotz), “Literatura infantojuvenil – história e estórias”, “Literatura infantojuvenil e suas possibilidades em sala de aula”, “Leitura em contraponto – novos jeitos de ler”, “Literatura infantojuvenil – diálogos Brasil-África” (Kleber Fabiano da Silva) e “Trilhas literárias indígenas” (Alcione Pauli). Foi premiada com o Selo Sala de Leitura, pela FAE (Fundação de Assistência ao Estudante) em 1989, e com o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), na categoria Melhor ensaio - Setor de Literatura Infantil e Juvenil, em 1986.

Alcides Buss
Mestre em Literatura Brasileira, poeta, co-fundador da revista Cordão, professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), foi diretor da Editora da UFSC e presidiu a Associação Brasileira de Editoras Universitárias e a União Brasileira de Escritores-SC. Tem mais de 20 títulos publicados, entre eles “O homem e a mulher”, “Contemplação do Amor”, “O homem sem o homem”, “Pomar de palavras” e o ensaio “Cobra Norato e a especificidade da linguagem poética”. Seu mais recente livro “Janela para o mar” ganhou o prêmio Fernando Pessoa, concedido pela UBE (União Brasileira de Escritores).

Carlos Adauto Vieira
Cronista, contista e advogado, é vice-presidente da Academia de Letras e Artes de São Francisco do Sul. Autor de “Saborosas histórias curtas”, “Europa sem programa” e “Contos & crônicas”. Durante décadas publicou suas crônicas no jornal A Notícia, sob pseudônimo de Charles D’Olengèr. Foi, também, co-fundador do grupo Cordão.

Donald Malschitzky
Cronista e consultor de empresas, publicou “Cabeças de vento”, “Grafite”, “Flechas” e “Pequenas histórias de São Bento” (memória oral de personagens de São Bento do Sul). É membro da Academia de Letras e Artes de São Francisco do Sul e cronista do jornal Notícias do Dia.

Joel Gehlen
Cronista, editor e jornalista, é diretor da Fundação Cultural de Joinville. Publicou “Outono do meu tempo” e “15 anos de dança” (história do Festival de Dança de Joinville). “Chuva sobre Sarajevo”, uma coletânea de crônicas, é sua mais recente obra. A crônica de Joel Gehlen escapa do conceito tradicional do simples olhar sobre um pedaço de realidade e adentra pela memória que só pode ser proclamada por aquele que viveu e sentiu o que vai sendo descrito ou narrado.

Jura Arruda
Cronista, roteirista e publicitário. Autor dos livros “Fritz, um sapo nas terras do príncipe” e “Uma árvore que dá o que falar”. Para o teatro escreveu “Uma festa para Eulália”, “Vontade de ser mulher” e “Nós (e um laço)”. Desde 2008 tem crônicas publicadas semanalmente no jornal Notícias do Dia.

Leone Silva
Ator e diretor de teatro, está na presidência da Fundação Cultural de Jaraguá do Sul. É integrante do Grupo de Teatro GATS de Jaraguá do Sul há 22 anos e foi presidente da Fecate (Federação Catarinense de Teatro) e Articulador do Ministério da Cultura em Santa Catarina para a II Conferência Nacional de Cultura. Presidiu a Comissão de Organização do 1º Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura, de Santa Catarina.

Urda Alice Klueger
Romancista e editora, faz parte da ACL (Academia Catarinense de Letras). Tem extensa obra publicada, entre “Verde vale”, “As brumas dançam sobre o espelho do rio”, “No tempo das tangerinas”, “Sambaqui” e “O povo das conchas”.(num total de 21 livros), além de cerca de 600 crônicas, fora textos acadêmicos, monografias, etc. Em seus três primeiros livros, refaz a história da colonização do Vale do Itajaí, vista de dentro, através do viver simples e comum do menor grupo social: a família.


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Quinta-feira, 31 de Outubro de 2013

Dia Nacional do Saci-Pererê e Lançamento de Livro da jornalista Elaine Tavare

 

A celebração do Dia Nacional do Saci-Pererê será no dia 31 de outubro, quinta-feira, das 15 às 17 horas, na Esquina Democrática, em frente à igreja São Francisco, na capital, Florianópolis. A promoção é  da Revista Pobres & Nojentas, com apoio do Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal do Estado de Santa Catarina (Sintrajusc) e do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal de Santa Catarina (Sintufsc). No dia também será lançado o novo livro da jornalista Elaine Tavares, da equipe da Pobres & Nojentas, intitulado "Olímpia Gayo visita o diabo". O trabalho conta a história da freira franciscana Olímpia Gayo, que iniciou um fecundo trabalho de organização das mulheres prostituídas em Lages (veja no final do release). No dia haverá música, contação de histórias, brincadeiras e distribuição de “sacizinhos”.
A lenda é assim! Basta que exista um bambuzal e, de repente, de dentro dos caniços, nascem os sacis. É como eles vêm ao mundo, dispostos a fazer estripulias. Conta a história que esses seres já existiam bem antes do tempo que os portugueses invadiram nossas terras. Ele nasceu índio, moleque das matas, guardião da floresta, a voejar pelos espaços infinitos do mundo Tupi-Guarani. Depois, vieram os brancos, a ocupação, e a memória do ser encantado foi se apagando na medida em que os próprios povos originários foram sendo dizimados.
Quando milhares de negros, caçados na África e trazidos à força como escravos, chegaram no já colonizado Brasil, houve uma redescoberta. Da memória dos índios, os negros escravos recuperaram o moleque libertário, conhecedor dos caminhos, brincalhão e irreverente. Aquele mito originário era como um sopro de alegria na vida sofrida de quem se arrastava com o peso das correntes da escravidão.
Então, o moleque índio ficou preto, perdeu uma perna e ganhou um barrete vermelho, símbolo máximo da liberdade. Ele era tudo o que o escravo queria ser: livre! Desde então, essa figura adorável faz parte do imaginário das gentes nascidas no Brasil.
O Saci-Pererê é a própria rebeldia, a alegria, a liberdade. Com o processo de colonização cultural via Estados Unidos – uma nova escravidão - foi entrando devagar, na vida das crianças brasileiras, um outro mito, alienígena, forasteiro. O mito do Haloween, a hora da bruxa e da abóbora, lanterna de Jack, o homem que fez acordo com o diabo. A história é bonita, mas não é nossa. Tem raízes irlandesas e virou dia de frenéticas compras nos EUA e também no Brasil. Na verdade, a lógica é essa. Ficar cada vez mais escravo do consumo e da cultura alheia. Jeito antigo de colonizar as mentes e dominar. É por isso que a Pobres & Nojentas quer recuperar o Saci, o brasileiro moleque das matas, guardião da liberdade, amante da natureza que hoje está ameaçada de destruição.
Queremos vida digna, um país soberano na política, na economia, na arte e na cultura. Cada região deste Brasil tem seus próprios mitos. Caipora, Boitatá, Curupira, Bruxa, Negrinho do Pastoreio... São os amigos do Saci que estão presentes na atividade do Dia do Saci Pererê, saudando e buscando a liberdade.
publicado por o editor às 00:31
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Domingo, 20 de Outubro de 2013

BRASÍLIA REVISITADA de EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

 

BRASÍLIA REVISITADA
de EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

PARA CLARICE E LUCAS, MEUS FILHOS — QUE AQUI NASCERAM

Não, não quero falar da cidade estigmatizada, dos poderes – podres ou não.
Não a urbe oficial, dos altos tecnocratas, dos políticos que só conhecem o aeroporto, carros oficiais, palácios, ministérios, o Congresso, restaurantes chiques, e boates de “moças de luxo” –– caras, da mais antiga profissão..
A cidade que amo é outra,
Das chuvas de janeiro (que agora pararam) de tantas mangas, dos verdes belos, das goiabas crescendo, da Clarice, do Lucas, dos piqueniques improvisados, do Parque da Cidade, e de tanta gente honrada que aqui labuta e corre atrás dos seus sonhos.
Mudar essa imagem eu sei que não vou.
Mas creio que o meu papel é o de “evangelizador laico”.
Se mudar uma só visão, um só olhar estereotipado, ficaria compensado.

EIS-ME DE VOLTA, PROVISORIAMENTE, DA PRIMEIRA PARA A ÚLTIMA CAPITAL.
Não, os poderes já não me interessam.
CADA MOMENTO É UM LUGAR ONDE NUNCA ESTIVEMOS.
E tento redescobrir cada momento.
O que é o tempo,?, pergunto-me sempre – desde que iniciei no ofício de tecer palavras.
Virgílio captou magistralmente: “Sede fugit interea , fugit irreparabile tempus” (“mas ele foge: irreparavelmente  o tempo).
E Clarice Lispector pergunta: “Oh Deus que faço desta/felicidade ao meu redor/que é eterna, eterna,eterna/e que passará daqui a um instante/porque só nos ensina/a ser mortal?”
Mas o que queria dizer?
Que há uma cidade escondida, além do olhar apressado.
Há uma cidade mais funda – das linhas retas.
Algo que ficará, além das celebridades vãs, da vida de gente que se atribui muita importância  – ministros e deputados que logo serão esquecidos.
Quem se lembra de Médici? Quem se esquecerá do Dr. Oscar e de Lúcio Costa?
É por essa razão que dedico o curto texto ao Lucas e a Clarice.
Não são “candangos”, pioneiros.
Ele está com 10 anos, ela com 27.
E há algo de novo nos seus olhares.
Esperança?
E enquanto escuto um pássaro cantando, o sol batendo na mesa em que escrevo, não consigo evitar o lugar-comum: há que celebrar a vida. Algo do nosso trabalho ficará – ficará. E sei que toda a glória é finita, que é sempre assim (apenas passamos). E o tempo foge.

publicado por o editor às 01:16
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Sexta-feira, 11 de Outubro de 2013

Videoclip do AZAGAIA

 



 http://www.youtube.com/watch?v=I8sTB5ei6Tk 

 
 
Videoclip do AZAGAIA, um rapper moçambicano que tem expressão maior por estas bandas, o que lhe vale alguns contragimentos na vida.

Prestes a lançar o seu 2º álbum 7 anos depois, gostaria que nos apoiassem a espalhar sua mensagem e sua figura por essas terras de Vera Cruz, já que alguma coisa entendemos em conjunto. Parece-me que o tamanho do oceano mantêm-nos sim distantes.


Biografia de Azagaia

Edson da Luz também conhecido como Azagaia, é um cantor moçambicano de Hip-Hop, nascido a 6 de Maio de 1984 em Namaacha, Maputo,  filho de pai cabo-verdiano e mãe moçambicana. É conhecido pela sua música de intervenção social apresentada inicialmente no seu album de estreia Babalaze.

...

Vista em: http://www.musica.mozmaniacos.com/2013/05/biografia-de-azagaia.html#ixzz2hAb0swY8

publicado por o editor às 20:48
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Quarta-feira, 28 de Agosto de 2013

Texto de Elaine Tavares - Levanta o povo charrua

 

Levanta o povo charrua


Por elaine tavares  - jornalista




Era uma fria manhã de 1834 na bela Lyon. Enquanto a cidade amanhecia, com seus odores de pão fresco e gentes malcheirosas, um homem jovem andava ligeiro pela rua ainda vazia. Carregava nos braços um bebê. Vestia-se pobremente e volta e meia olhava para trás, esperando ver soldados. Os poucos transeuntes não sabiam, mas ali ia um valente cacique charrua, chamado Tacuabé. Carregava a filha da também charrua Guyunusa que, como ele, fora aprisionada na região da Banda Oriental (hoje Uruguai), e remetida a Paris, como um bicho raro. Eram quatro os índios levados para a França: Tacuabé, de 23 anos, Vaimava, um velho cacique, Senaqué, um conhecido pajé charrua e Guyunusa. Obrigados a se apresentarem em circos pelos arredores de Paris, sofrendo maus tratos e saudosos de sua terra, os charrua foram morrendo um a um. O primeiro foi Senaqué, que definhou de tristeza, depois o velho Vaimaca. Guyunusa, com pouco mais de 20 anos, tomada pela tuberculose, morreu em Lyon, deixando um bebê que se acredita fosse filha de Vaimaca. Obteve de Tacuabé a promessa de que a garota haveria de ser livre. E assim, tão logo ela fecha para sempre os olhos, o jovem charrua decida escapulir do circo, levando com ele a menina. Os historiadores nunca acharam o rastro do cacique e da menina charrua, mas, se sobreviveram é possível que hoje o sangue charrua também corra em alguma família aparentemente francesa. Porque se ser charrua é ser valente, não há dúvidas de que Tacuabé conseguiu garantir a vida, dele e da menina, naqueles longínquos e tristes dias.



Quem eram os charrua



Corria o ano de 1513 quando Juan de Solis chegou ao Rio da Prata e isso marcaria para sempre a vida dos povos que ali viviam desde há séculos. O povo charrua era uma gente aguerrida que habitava as pradarias do que hoje é o Uruguai, a pampa argentina e parte do Rio Grande do Sul. Chamado de vale do rio Uruguai essa era uma região de coxilhas e muitas pradarias, espaço de ventos intensos tanto no verão como no inverno. Além da gente charrua e do povo minuano, dividiam o espaço as capivaras, ratos do banhado, pecaris, veados, jaguatiricas e o mítico ñandu (a ema).



Já em 1526, o espanhol Diego Mogger relata em suas cartas sobre esses indígenas que eram vistos de longe, observando e sendo observados bem na entrada do Rio da Prata. Os espanhóis descreviam os charrua como uma gente moreno-oliva, de estatura média, pomo de adão saliente, dentes bons, rosto largo, boca grande e lábios grossos. Os homens usavam cabelo bem comprido, muito lisos, e tinham por costume amputar um dedo da mão. Já os minuano eram um pouco mais baixos, de fala baixa, melancólicos e igualmente acobreados. Durante todo o processo de ocupação do território do que hoje é o sul da América Latina eles se mantiveram à distância, porque seu espaço era o interior e tantos os espanhóis quanto os portugueses preferiam se radicar nas margens do mar ou dos grandes rios. Mesmo assim, desde a chegadas dos invasores muitas foram as escaramuças, principalmente com os charrua. Desde o ano de 1573 já é possível encontrar relatos de lutas com os espanhóis.



Eles viviam como grupos seminômades, em acampamentos estáveis, ora aqui, ora ali, seguindo o ritmo das estações. Caçavam e plantavam coletivamente num território que, depois da invasão, ficou durante mais de dois séculos como fronteira não demarcada entre Espanha e Portugal. Era visto pelos invasores como “terra de ninguém”. Mas, ao contrário do que poderiam crer os que chegavam da Europa, aquele era um espaço já há centenas de anos ocupado não só pelos Charrua mas também pelos povos Minuano, Tapes, Chaná e até Guarani. Ainda assim, apesar das lutas esporádicas, os originários eram ignorados. "Sem alma", diziam os padres. Assim, para os europeus, Joãos e Marias ninguém.



Só que, na verdade, esses povos já tinham desenvolvido uma cultura. Tinham uma organização comunitária e eram regidos por um conselho da aldeia. As tarefas eram definidas, os homens caçavam e as mulheres cuidavam dos toldos que lhe serviam de abrigos. Desenvolveram tecnologias eficazes para a caça como é o caso da boleadeiras, instrumento usado para derrubar os ñandus e bichos maiores. Já cozinhavam a carne e produziam vasos de barro escuro, os quais serviam para uso doméstico. Reverenciavam as forças da natureza e acreditavam na ressureição, uma vez que seus mortos eram enterrados com todos os seus objetos pessoais, para uso na outra vida. No verão andavam nus, no inverno se ungiam com gordura de peixe e usavam peles de animais. As mulheres usavam uma espécie de fralda de algodão, hoje conhecida como xiripá, chamado por eles de cayapi. Os homens usavam uma vincha (faixa de pano) na testa. Toda a organização girava em torno do núcleo familiar. Um homem quando queria se casar fazia o pedido ao pai da moça e já montava sua tenda. A comunidade não tinha hierarquia, tampouco chefe, tudo era decidido no conselho. Presos de guerra não eram escravizados, viravam família e se integravam na vida da comunidade. Todo grupo tinha uma mulher velha que cuidava da saúde. O grupo tinha por costume se reunir no cair da noite para planejar o dia seguinte, mas nada era imposto. Era um povo livre e essa forme de viver iria, três séculos mais tarde, encantar o jovem Artigas, que seria um dos libertadores nas guerras de independência.



A ocupação espanhola



A vida dos charrua começaria a mudar radicalmente a partir de 1607 quando os espanhóis introduzem o gado bovino e equino na região e, como as pradarias não tinham fim, os animais se espalhavam chegando a gerar imensos rebanhos selvagens chamados de “cimarrón”. Tão logo conheceram o cavalo, os charrua se encantaram com a beleza, a velocidade e a docilidade dos mesmos. Trataram de aprender a lidar com eles e em pouco tempo era exímios cavaleiros, imbatíveis no lombo nu dos velozes cimarrón. Nas batalhas, eles se agarravam às crinas e permaneciam deitados de um lado, praticamente invisíveis aos inimigos. Por algum motivo não sabido, charrua e cavalo passaram a ser quase como uma só criatura.



Por outro lado, foi justamente o crescimento exponencial do gado bovino o responsável pelo fim da mal arranjada paz no território charrua. Como a carne e o couro eram artigos disputados pelo comércio da época, a região que antes era dominada pelos indígenas passa a receber levas de faeneiros (a mando dos espanhóis) e changueadores (aventureiros) que buscavam arrebanhar o gado selvagem para a venda aos ingleses. Essa mistura com a gente europeia e criolla vai enfraquecendo o já frágil domínio que os charrua tinham sobre o território da campanha. Também é nessa época que ficam mais acirradas as relações com a gente branca que começava a adentrar para o interior, cercando terras e fazendo-as suas.



Em 1626 é a vez da chegada dos jesuítas que começam a criar missões para aldear os índios. O objetivo era domesticar e converter. Os guarani foram mais suscetíveis ao discurso e a ação dos jesuítas, mas os charrua não quiseram nem saber. Eram homens e mulheres livres, acostumados aos caminhos da pampa e não houve quem pudesse prendê-los, ainda que com discursos de salvação. Diz a história que chegou a existir uma pequena redução charrua, em torno de 500 almas, mas não durou mais que quatro anos. Os charrua prezavam a liberdade e, acossados pela invasão branca, acabavam por realizar operações de saque nos povoados, em busca do fumo e da erva-mate. Por conta disso a relação com os colonizadores se acirrava cada vez mais. Naqueles dias começavam a surgir as estâncias, e o gado deixava de ser solto nas pradarias, sendo recolhido em grandes currais. Assim, os animais livres escasseavam e os indígenas perdiam sua fonte de sobrevivência, passando a viver em estado de miséria. Sem terra, sem gado e sem comida, só restava o roubo.



Para os espanhóis e criollos que começaram a ocupar as terras da Banda Oriental, aquela "indiarada" começou a ser um problema e tanto. Era preciso exterminá-los. Foi nesse contexto que aconteceu a famosa "batalha de Yi" em 1702, quando os espanhóis decidiram encerrar a aliança que mantinham com os charrua e os minuano, e resolveram matar todo mundo. Para isso, de forma perversa, contaram com a ajuda dos guarani, os quais já mantinham aldeados há anos. E o resultado foi que mais de 200 charrua pereceram sob o exército de dois mil guarani. Outros quinhentos, levados como prisioneiros para as missões, foram assassinados pelos tapes, também orientados pelos jesuítas e chefes espanhóis. Era o que os espanhóis chamavam de "limpeza dos campos". Na metade do século muitos tinham sido passado pela faca e as mulheres e crianças mandadas a Buenos Aires e Montevidéu servindo como domésticas. Ainda assim, vários grupos resistiram e seguiram vagueando pelos campos, vivendo de contrabando de gado e roubo.



Artigas, os charrua e a independência



São esses valentes que o jovem José Artigas vai encontrar nas cercanias das terras onde vivia com os pais, na imensidão da campanha gaúcha. Desde bem guri ele fugia para as tolderias e aprendia com os charrua o valor da vida em liberdade. Aprendeu suas táticas de guerra, sua cultura, sua forma comunitária de viver. Quando então, finalmente, saiu de casa para não mais voltar, foi viver de aventuras como contrabandista de gado. Abdicando de ser um “filho de fazendeiro” era com os irmãos charrua que ele vagueava pelos campos na única rebelião possível naqueles dias: pegar os espanhóis pelo bolso. Em 1897, quando decide entrar para o batalhão de Blandengles, Artigas já tem muito claro os seus objetivos. Inspirado por tantas lutas que assomaram contra o domínio espanhol, Artigas decide que, junto com os negros e índios – os mais explorados entre os explorados – vai comandar a luta pela independência da Banda Oriental.



E é assim que as coisas acontecem. O soldado Artigas não é um soldado qualquer. Ele pensa e propõe. Tem do seu lado uma leva de homens livres que o seguem de livre vontade. Não como um líder, mas como a um irmão. Acreditam nele e nos seus desejos de vida digna, de terra repartida, de vida comunitária. Esse legado, aprendido com os charrua, é o que vai comandar toda a proposta artiguista de libertação. E é na valentia indígena que acontece a primeira grande batalha de Artigas, na comunidade de Las Piedras, em 1810. Armados apenas de facas, os comandados de Artigas colocam para correr os soldados bem armados da coroa. Depois disso, são inúmeras as páginas da guerra, com Artigas e seu grupo de índios e negros, aos quais chamava de “povo de heróis”. Com eles, praticava a política da soberania popular e da autodeterminação, gestando uma consciência de classe, de pertencimento, que se manteve firme até o massacre final. Nos acampamentos comandados por Artigas todas as coisas eram discutidas abertamente, cada soldado, cada mulher, cada ser, tinha direito a voz e voto. Era essa gente que deliberava, Artigas apenas cumpria. No primeiro grande êxodo, quando o povo seguiu com ele pelo lado norte do rio Uruguai, Artigas chegou a criar uma entidade sociológica, a qual dizia obedecer. Era o “povo oriental em armas”. Nunca traiu os seus companheiros e com eles levou a Banda Oriental à liberdade.



Mas, a história da libertação desta parte do sul do mundo tem também os seus traidores, que acabaram sendo os carrascos de Artigas e dos charrua. Logo depois da independência, os interesses da elite criolla foram se consolidando e “aquela gente suja” que andava com Artigas acabou virando uma pedra no sapato. Ninguém queria que as ideias de reforma agrária, democracia e autodeterminação vingassem por ali.  A revolução artigista representava uma transformação radical nos métodos e práticas de governo. A prioridade era a ação direta do povo. As comunidades elegiam seus representantes de forma livre e era nas assembleias que se discutiam os temas relevantes da nação. Este sistema foi cunhado como o “sistema dos povos livres”. Pela primeira vez, depois da conquista europeia, o território voltava a ser das gentes. E a proposta defendida por Artigas era tão avançada que ele conseguia manter unidos os povos originários e os descendentes espanhóis sob o mesmo desejo: criar uma pátria nova, livre, soberana, onde cada um tivesse o mesmo poder. Era coisa demais para as elites locais e para os que sonhavam em dominar a região, rica em carne e couro.



Foi aí que começou a se gestar o processo de destruição de Artigas e de seu povo. Através de intrigas e difamações, o comandante é escorraçado do Uruguai, partindo para o exílio no Paraguai. Com ele seguem dezenas de famílias charrua, decididas a compartilhar sua derrota. Mas, outros tantos permanecem no território uruguaio e passam a ser vistos como um perigo em potencial. Eram homens livres e não haveriam de aceitar a perda das terras e de todo o ideário construído com Artigas. O presidente da nação recém-criada, Fructuoso Rivera decide então chamar os charrua para uma armadilha.



Corre o ano de 1831, num cálido abril, quando Fructuoso envia convites a todas as tolderias charrua para um encontro em Salsipuedes. Pede a ajuda dos indígenas para defender as fronteiras contra os portugueses. Os charrua acorrem, solícitos, em defesa da pátria oriental, a qual aprenderam a amar como sua. Eles chegam, armam seus toldos e esperam pelo presidente. Ele nunca chegaria. Durante a noite, enquanto os indígenas dormem, o exército ataca. A ordem é matar todo mundo. Nenhum charrua deve sair vivo.  O que se vê na manhã seguinte é um banho de sangue. O povo charrua está exterminado. Os poucos que restam vivos são vendidos como escravos. A nova nação se vê livre do incômodo: o valente povo charrua que, na verdade, foi o protagonista da liberdade.



Entre os “escravos” levados para Montevidéu seguem Vaimaca, Senaqué, Tacuabé e Guyunusa, que dois anos mais tarde são levados como “bichos de circo” para a França. Subsumidos como criados e perdidos de sua liberdade o povo charrua originário do Uruguai vai se apagando, até deles não restar mais vestígios. Alguns poucos homens que sobrevivem ao massacre de Salsipuedes, comandados pelo cacique Sepé atravessam o rio Uruguai pela cidade de Quaraí, e passam para o lado português, indo, mais tarde, se integrar às colunas do exército farrapo que iniciou a luta pela independência na região do Rio Grande do Sul. Misturados aos minuanos e tapes, eles irão escrever páginas gloriosas no chão brasileiro, mas, igualmente derrotados, também desaparecem na poeira da história.



O fim?



Até o final do século XX era dado como certo que o povo charrua era uma gente extinta. Dela restava só a memória daqueles anos longínquos da independência. Mas, pouco a pouco, pessoas foram se deparando com suas raízes, descobrindo seus ancestrais. Descendentes da gente charrua que passou para o Paraguai com Artigas, do grupo que cruzou o rio Uruguai e veio para o Brasil, dos que sobreviveram como escravos ou empregados domésticos. A história charrua voltou a ser contada, palavras da língua original começaram a ser lembradas e a vida brotou. O povo charrua foi assomando nos descendentes e hoje já são milhares os que se autodenominam assim. Há uma organização do povo charrua no Uruguai e outra no Rio Grande do Sul. Não há um território específico sendo reivindicado ainda, mas já se sabe que no início de 1900 havia um pequeno grupo fixado na região de Tacuarembó, no Uruguai, bem como atualmente há um grupo vivendo em comunidade próximo à Porto Alegre.



Para os descendentes o mais importante agora é recuperar a história. O povo do Uruguai precisa saber que só é livre porque um dia o povo charrua se levantou em armas, junto com Artigas, e defendeu as fronteiras ajudando a criar a nação. O povo do sul precisa saber que os charrua foram enganados, massacrados, mas ainda assim deixaram viva a sua marca. Não é sem razão que na entrada de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a estátua que representa a cidade é uma figura que é um misto de paisano e charrua. O famoso “laçador”, apesar de um semblante bem paisano, aparece com o xiripá, a vincha na testa e a boleadeira, elementos típicos da cultura charrua.



E, hoje, já na metade da primeira década do século vinte e um, os charrua se levantam e se mostram. Tanto que no dia 9 de novembro de 2007, após uma luta que já durava 172 anos, a Câmara Municipal de Porto Alegre reconheceu a comunidade charrua como um povo indígena brasileiro. Considerado extinta pela Fundação Nacional do Índio (Funai), essa foi uma vitória fundamental. O evento foi organizado em conjunto pelas comissões de Direitos Humanos da Câmara Municipal, da Assembleia Legislativa e do Senado Federal.



Há informações de que existem mais de seis mil charrua nos países que compõem o Mercosul. Só no Rio Grande do Sul, são mais de quatrocentos índios presentes nas localidades de Santo Ângelo, São Miguel das Missões e Porto Alegre. A terrível sentença de Fructuoso Rivera não se cumpriu. O povo que dominava todo o território da Banda Oriental não foi exterminado. Ele vive e avança!
publicado por o editor às 01:21
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Segunda-feira, 26 de Agosto de 2013

Blumenau, uma cidade sem alma - texto de Sally Satler

 

Pessoal,
Uma interessante reflexão:

"Antes que muitos levantem seus cajados e atirem pedras, tenho a dizer que o título que leva esse artigo não foi dito por mim. Foi por um francês, que trabalhou por muitos anos na Alemanha, mas hoje mora na fronteira com a Suíça e esteve aqui na cidade no início deste ano (janeiro/2013). Veio até Blumenau a convite de uma amiga; e, passeando por aqui, disse que não entendia o porquê dessa paranóia da cultura alemã - se a essência dessa cultura vem sendo demolida e arrancada. Perguntou também onde estariam os jardins, as praças, os parques, as sombras e as árvores da cidade. Ao visitar a Vila Germânica, questionou porque Blumenau quer ser algo que ela não é.

As perguntas são difíceis de responder, mas foram essas as questões que me motivaram a escrever esse artigo.

Fazendo uma breve análise do cotidiano blumenauense, fica difícil dizer que ele não tenha razão. Blumenau enche a boca de orgulho pra dizer que tem famosos eventos turísticos regados a cerveja e chopp, mas parece não ter muita sede de cultura, arte ou mesmo de lazer, que não seja aquele amortecido pelo álcool. Os investimentos públicos em arte e cultura na cidade ainda andam a passos lentos e dormentes. A maior parte dos incentivos são dados para manter uma hegemonia da identidade alemã, que já não se justifica mais dentre tantas outras. Sem falar nos empresários blumenauenses, que não contribuem sequer pela lei de mecenato, mesmo não lhes causando qualquer prejuízo financeiro, eis apenas direciona os impostos para atividades culturais da sua cidade." Sally Satler

Texto Completo:
http://sallysatler.blogspot.com.br/2013/08/blumenau-uma-cidade-sem-alma.html
publicado por o editor às 20:34
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