A experiência da Prefeitura de Curitiba na área de incentivo à leitura será apresentada no curso de extensão “Alfabetização e Práticas de Letramento”, promovido pela Universidade Federal do Paraná, neste mês de outubro. O programa Curitiba Lê, desenvolvido pela Fundação Cultural de Curitiba, será tema de uma palestra a ser proferida pelo coordenador de Literatura da FCC, Mauro Tietz, na próxima terça-feira (16), para os participantes do curso.
Na palestra “Formação do leitor: experiências do inesperado”, Mauro Tietz mostrará os resultados da linha de trabalho aplicada nas Casas da Leitura da Fundação Cultural de Curitiba, visando à formação de leitores. Segundo Mauro, a experiência de Curitiba, considerada pela Unesco uma prática de referência, agora ganha também reconhecimento no mundo acadêmico, dentro de um projeto da UFPR que envolve as três esferas de governo. O curso tem a proposta de estudar métodos e práticas para desenvolver a habilidade de ler e interpretar.
Convidado para a conferência de abertura, Mauro explica que a prática adotada pelo programa Curitiba Lê se distancia do caráter pedagógico normalmente aplicado pelas escolas, onde a leitura está associada a outros conteúdos. “Para nós, não interessa a análise literária, com a identificação de elementos da narrativa, a composição dos personagens, entre outros aspectos da obra. O que se propõe é a prática da liberdade de leitura, que faz com que a pessoa ‘viaje’ e sinta o prazer de ler. É nesse momento que o leitor se forma”, explica Mauro.
Segundo o coordenador de Literatura, esse modelo de trabalhar com a formação de leitores é resultado de muita reflexão entre os mediadores de leitura da Fundação Cultural, que se integram a grupos de estudos sobre o tema. Alguns teóricos servem de base para essa linha de trabalho adotada pela FCC: o escritor e sociólogo Antônio Cândido, que considera o “direito à literatura” um direito básico e fundamental do cidadão; a professora Eliane Yunes, diretora da Cátedra de Leitura da Unesco na PUC-Rio, e a antropóloga francesa Michelle Petit, que trabalha a leitura com populações de vulnerabilidade social.
De acordo com Mauro Tietz, o modelo implantado nas Casas da Leitura com o programa Curitiba Lê tem trazido bons resultados. A demonstração de que se trata de uma atividade permanente e intensa são as duas mil rodas de leituras programadas e realizadas somente em 2012. “Nas rodas, o papel do mediador é escolher um texto e compartilhar com as outras pessoas o prazer da leitura. A leitura é, portanto, uma prática que pode ser solidarizada”, diz.
As rodas de leitura também são levadas para programas sociais e de educação da Prefeitura, mas sem nenhuma preocupação com o aspecto terapêutico ou pedagógico. Essa noção de que as amarras pedagógicas podem “desestimular” o hábito da leitura, ao invés de incentivar, não é nova, mas para o coordenador de Literatura a diferença agora é que se tem a prática de uma nova abordagem. “O que acabamos percebendo é que a ideia de que o brasileiro não gosta de ler é falsa. As pessoas gostam de ler. Só é preciso tirar essas amarras. O que vale é a liberdade da leitura”, afirma.